• Aliados veem a candidata a vice como uma política de lances imprevisíveis e temem restrições no partido
Cristiane Jungblut, Maria Lima e Catarina Alencastro – O Globo
BRASÍLIA e TERESINA - A morte trágica do ex-governador Eduardo Campos (PSB) recoloca a ex-senadora Marina Silva no centro das discussões sobre os rumos da campanha eleitoral de 2014. Candidata a vice na chapa de Campos, Marina ingressou no PSB em outubro passado após não conseguir criar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, carregando consigo como patrimônio político os 19,6 milhões de votos na eleição de 2010, quando ficou em terceiro lugar no primeiro turno.
No meio político, a ex-senadora é vista como natural sucessora de Campos no cargo - sobretudo por seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto feitas no primeiro semestre. Em abril, pesquisa do instituto Datafolha colocava Marina no segundo lugar da corrida eleitoral, com 27%, contra 39% de Dilma Rousseff e 16% de Aécio Neves.
De acordo com aliados de Campos e de Marina, há no entanto dois aspectos que terão de ser abordados antes de uma definição. O primeiro é a própria vontade de Marina, que é vista como uma política de lances imprevisíveis. O segundo é que Marina enfrenta sérias restrições em alguns setores do PSB, especialmente em São Paulo, e teria que se sujeitar a acordos formados pelo partido para viabilizar seu nome. Embora pessoas próximas à senadora já dizerem que ela não vai "impor" seu nome, sua candidatura já recebeu o aval da família de Eduardo Campos.
Ainda sob o impacto da tragédia que vitimou o candidato do PSB, o único irmão do presidenciável, Antônio Campos, defendeu que Marina substitua Eduardo Campos na disputa pela Presidência da República como titular. Tonca, como é conhecido, acha que a luta de Eduardo Campos não pode morrer com ele.
- Eduardo morreu lutando. Temos que colocar Marina para cima - defendeu Antônio Campos, em conversas com dirigentes do partido.
Defesa de candidato do PSB
Algumas correntes socialistas, no entanto, defendem que o substituto seja do PSB, já que Marina e seu grupo têm projetos próprios e só se abrigaram no partido até a criação oficial da Rede Sustentabilidade. O PSB tem dez dias para registrar, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um candidato no lugar de Eduardo Campos, ouvidas todas as instâncias partidárias.
- O irmão de Eduardo quer que lancemos Marina. Mas há correntes no PSB que discordam e defendem que lancemos um candidato da própria legenda. Marina tem seu próprio grupo, que não é necessariamente o do PSB - informou um dos dirigentes socialistas.
- O natural é que ela seja a candidata, mas se ela vai conseguir manter todo mundo unido é outra coisa - resumiu um senador.
Visivelmente emocionado, o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), disse que o partido terá uma decisão "no momento oportuno". Ele acredita que haverá uma candidatura.
- No momento oportuno, vamos tomar essa decisão (de quem será o candidato). Estamos muito abalados, e agora que vamos começar a conversar. É um impacto muito grande. O Eduardo era um candidato competitivo, que representava a esperança para milhões e milhões de brasileiros. É impossível prever o que vai acontecer - disse Rollemberg.
Para André Lima, fiel escudeiro de Marina Silva e um dos fundadores da Rede no Distrito Federal, o momento é de choque, e todos agora vão ter que parar e rever o caminho.
- Agora é parar tudo, deixar o luto pesar e ver o que vamos fazer. Mais do que o imponderável, o impossível aconteceu. Uma tristeza - disse André.
Futuro incerto
Políticos evitaram falar abertamente no assunto. Os mais próximos de Marina não negam que seu projeto sempre foi de ser candidata, mas lembraram seu estilo de não se impor e de criar as condições que lhe agradem para embarcar num projeto.
- Estamos todos órfãos e sem rumo. O Brasil perdeu parte de seu futuro. Mas pensar em tirar Marina agora seria uma loucura. Isso pode desestabilizar totalmente a eleição. Ela já é candidata, e nós não temos quadros para reposição com tão pouco tempo. Marina pode tirar Dilma do segundo turno - avalia o ex-deputado e candidato a novo mandato Heráclito Fortes (PSB-PI).
Interlocutores de Marina Silva dizem que o futuro da idealizadora da Rede é incerto.
- Marina e Eduardo estavam estabelecendo uma relação de muita proximidade e cumplicidade. O diálogo entre eles estava fluindo como nunca - disse um correligionário.
Dirigentes do PSB já afirmavam ontem que não se poderá dar um cheque em branco a Marina e que ela terá que respeitar as decisões do partido. O deputado Márcio França (PSB-SP), vice na chapa do governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB), é um dos mais refratários a aceitar Marina. Há, no entanto, outras seções do partido que também enfrentam dificuldades regionais com a Rede. Parlamentar próximo ao grupo político de Campos e Marina, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) acrescentou:
- A bola agora está com o PSB, que tenha firmeza e lucidez neste momento.
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