Morte de Eduardo muda a campanha
• Desastre aéreo em Santos mata o candidato do PSB ao Planalto. Causas do acidente que tirou a vida de outras seis pessoas ainda são desconhecidas. Com luto oficial de três dias, atividades dos presidenciáveis estão suspensas
Leonardo Cavalcanti, Paulo Silva Pinto – Correio Braziliense
"Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde vamos criar nossos filhos, é aqui onde temos de criar uma sociedade mais justa. O Brasil tem jeito, vamos juntos"
Eduardo Campos, em entrevista na noite da última terça-feira
Em meio à chuva fria da manhã de ontem em Santos, litoral de São Paulo, um acidente aéreo acabou com a trajetória de um dos políticos mais promissores da história do país. E deixou em suspenso a eleição presidencial, marcada para daqui a 52 dias. Eduardo Henrique Accioly Campos, 49 anos, morreu às 10h quando o jato Cessna Citation 560XL em que viajava caiu sobre uma área residencial na cidade. Na aeronave também estavam, além dos dois pilotos, quatro assessores do ex-governador de Pernambuco. Eduardo — terceiro colocado na corrida pelo Planalto, segundo as pesquisas — deixou a mulher, Renata, e cinco filhos. O mais novo, Miguel, nasceu no último mês de janeiro.
A triste coincidência: em 13 de agosto de 2005, morria Miguel Arraes, avô materno e mentor do início da carreira política de Eduardo. Na próxima terça-feira, começa o horário gratuito, que marca a fase mais intensa da disputa pelo Planalto. O PSB, partido de Campos, tem 10 dias para apresentar um novo nome no pleito. Não está decidido se a ex-senadora Marina Silva, candidata a vice de Eduardo, será alçada à posição principal na chapa, o que seria o caminho natural.
Por enquanto, a corrida eleitoral está interrompida. A presidente Dilma Rousseff decretou ontem luto oficial de três dias no país e afirmou que as atividades de sua campanha para a reeleição ficam suspensas no período. O postulante do PSDB, senador Aécio Neves (MG), também disse, após lamentar a morte de Eduardo, que seus compromissos da campanha presidencial para os próximos três dias estão cancelados.
Ainda são desconhecidas as causas do acidente. O Cessna decolou às 9h21 do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino à Base Aérea de Santos, no Guarujá, cidade vizinha, onde o candidato do PSB tinha uma extensa agenda de compromissos pela manhã. Mesmo com chuva, era suficiente a visibilidade para a operação na pista do aeroporto. Os ventos, porém, eram fortes. Ao fazer o Cessna buscar o solo, o piloto Marcos Martins arremeteu, o que em linguagem técnica significa subir novamente. O procedimento é indicado quando a cabine de comando não tem segurança para concluir o pouso.
A gravação da conversa entre a tripulação e o controle aéreo indica que a situação era razoavelmente tranquila até aquele momento. Mas, depois disso, a comunicação foi cortada. Martins, com 20 anos de experiência incluindo voos internacionais, virou o Cessna para a esquerda, fazendo uma curva sobre Santos. A manobra era prevista para voltar à cabeceira da pista e tentar novo pouso. Então, o avião perdeu altura e se chocou contra o solo. Os destroços se espalharam por 13 imóveis.
Testemunhas afirmam ter visto o avião em chamas ainda no ar. Especialistas destacam, porém, que o Cessna, com duas turbinas, pode voar mesmo que uma delas se incendeie ou pare de funcionar. O jato, com quatro anos de uso, estava com a manutenção em dia e era usado havia três meses pelo PSB. Pertencia a uma destilaria de Ribeirão Preto (SP).
Assim que os restos mortais de Eduardo forem identificados, deverão seguir para o Recife, onde serão sepultados junto do túmulo de Miguel Arraes. Tão indefinidas quanto as causas do acidente de ontem são as consequências para a corrida ao Planalto.
"Espero que o exemplo do Eduardo Campos sirva para mantê-lo vivo na memória e nos corações dos brasileiros e das brasileiras. Sem dúvida é um momento de pesar, sem dúvida é um momento de tristeza"
Dilma Rousseff,
presidente e candidata à reeleição
"Brasil perde um dos seus mais talentosos políticos, que sempre lutou com idealismo por aquilo em que acreditava. Nesse momento, minha família e eu nos unimos em oração à família de Eduardo, seus amigos e a milhões de brasileiros que, com certeza, partilham a mesma perplexidade e pesar"
Aécio Neves,
candidato do PSDB ao Planalto
"Esta é, sem sombra de dúvida, uma tragédia. Uma tragédia que impõe luto e muita tristeza. Eu sei que os brasileiros estão compartilhando com cada um de nós e principalmente com sua família, com seus amigos"
Marina Silva,
vice na chapa do PSB na corrida presidencial
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