Marina Falcão – Valor Econômico
JOÃO PESSOA (PB) - Apenas 120 quilômetros separam as capitais Recife e João Pessoa, mas é bem mais ampla a distância entre os desempenhos do candidato à Presidência do PSB, Eduardo Campos em Pernambuco e na Paraíba. Se em Pernambuco, Estado em que foi governador por oito anos, Campos se aproxima da presidente Dilma Rousseff na liderança nas intenções de voto, na Paraíba o candidato briga para se firmar no segundo lugar contra o presidenciável do PSDB, Aécio Neves (PSDB). Essa situação se repete em toda a região Nordeste.
Em sua primeira ida à Paraíba desde que se lançou candidato, Campos visitou no sábado o Programa Cidade Madura, residencial construído na Mangabeira (maior bairro de João Pessoa), pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) para atender a idosos. Acompanhado de Marina Silva (PSB), sua candidata à vice-presidente, Campos disse que, caso eleito, levaria o projeto para todo o país. O presidenciável se posicionou como uma alternativa à candidatura de Dilma, apontando problemas como inflação, desemprego e paralisação das obras na ferrovia Transnordestina.
A poucas ruas do local onde Campos e Marina discursaram, o porteiro Ronaldo da Silva Gomes, 41 anos, transitava no popular Mercado da Mangabeira. Ele diz que já ouviu falar em "Enivaldo" Campos, de Pernambuco, mas que vai votar em Dilma por causa do Bolsa Família. Aristóteles Inácio Oliveira, aposentado, 65 anos, também já fez a sua escolha: Aécio Neves, "porque o avô dele morreu eleito" e porque "Dilma é apenas um fantoche de Lula". Ele não tem opinião formada sobre Campos.
De sexta-feira até ontem, Campos percorreu uma maratona no Nordeste. Foram três estados (Alagoas, Pernambuco e Paraíba) em três dias. Em Arapiraca (AL), criticou as cobranças judiciais em cima de pequenos agricultores que sofreram com a seca e garantiu que não pretende mexer no Bolsa-Família, em um discurso onde disse que "se sentia em casa".
Campos tem 12% das intenções de votos dos nordestinos, segundo a pesquisa do Ibope divulgada na semana passada. O percentual do candidato na região praticamente não evoluiu em relação ao levantamento anterior, que mostrava Campos com 11% no Nordeste.
O candidato do PSB está tecnicamente empatado Aécio Neves (11%) na região Nordeste, ambos bastante atrás de Dilma, que tem pouco mais da metade (51%) das intenções de voto.
Os números do Nordeste revelam as dificuldades que Campos enfrenta em sua primeira eleição nacional. Para especialistas, os desafios vão além do fato do candidato enfrentar o fenômeno do "Lulismo".
Túlio Velho Barreto, cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), diz que o PSB é "inegavelmente" uma legenda tradicional e importante, mas que só vem ampliando sua influência nacional nas últimas eleições. "A legenda não tem ainda uma dimensão que extrapole fronteiras estaduais e, às vezes, mesmo as de algumas capitais", afirma. "É um partido que tem sido, ao longo dessa quadra democrática, praticamente um partido satélite do PT, o que não tem contribuído para criar uma identidade própria", diz.
Para Flávio Lúcio Vieira, cientista político da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o fato de Campos ser nordestino não é suficiente para compensar a polarização entre PT e PSDB. "Até agora, Campos não conseguiu se colocar como uma terceira alternativa e acaba disputando o eleitor com Aécio".
Em Pernambuco, Campos tem 37% do eleitorado, tecnicamente empatado com Dilma, que tem 41%, aponta o Ibope. Aécio tem 6%. Mas o cenário de Pernambuco é um ponto fora da curva. Na Paraíba, Campos aparece com 12,9 % da intenções de voto, quase igual a Aécio Neves, com 12,6%, e Dilma com 47,4%, mostra uma pesquisa do Instituto Souza Lopes, de julho.
"A Paraíba é historicamente próxima à Pernambuco, mas a situação de Campos por aqui não é diferente do que ele encontra nos outros estados", diz Vieira.
Na Paraíba, Campos apoia o governador Ricardo Coutinho (PSB), cujo principal adversário é o ex-governador e senador Cássio Cunha Lima (PSDB), tradicional força política do Estado. O tucano lidera a disputa estadual, com quase 44% dos votos, de acordo com o Instituto Souza Lopes. Coutinho tem 25% dos votos e Veneziano Vital do Rêgo (PMDB), 8,5%.
No Ceará, Campos perdeu o apoio do governador Cid Gomes e seu irmão Ciro. Os Gomes decidiram apoiar a candidatura de Dilma em 2013, aderindo ao Pros.
Apesar de estagnado, o desempenho de Campos no Nordeste é melhor do que no resto do País, onde tem 9% das intenções de voto, contra 23% de Aécio e 38% de Dilma, segundo o Ibope.
A questão da identidade nordestina tem peso na decisão da estudante de nutrição paraibana Larissa Araújo, 29 anos. Ela já decidiu votar em Campos "porque ele é nordestino" e porque "Pernambuco respira desenvolvimento".
Larissa vive em Caaporã (PB), divisa entre Paraíba e Pernambuco. A 10 minutos da sua cidade, já do outro lado da fronteira entre os estados, o município de Goiana (PE) abriga um polo automotivo, onde está sendo levantada a fábrica da Fiat. "Moro na Paraíba, mas escutei mais falar em Eduardo [Campos] do que em Ricardo [Coutinho]".
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