• Partido traça estratégia semelhante à adotada durante o mensalão
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - Com oito de seus filiados citados até agora como beneficiados pelos esquemas de corrupção detectados pela Operação Lava-Jato na Petrobras, o PT se prepara para, mais uma vez, rebater a pecha de que é um partido corrupto. Assim como aconteceu no mensalão, petistas classificam o suposto envolvimento de filiados nos escândalos da Petrobras como sendo uma campanha difamatória contra a sigla.
- O mensalão não foi um ato de corrupção. Foi política pura. Foi um julgamento com condenação sem provas, com núcleos de acusação insustentáveis. Não tem dinheiro público envolvido, até o Joaquim Barbosa (relator do caso no Supremo Tribunal Federal) sabe disso - afirmou o deputado Paulo Ferreira (PT-RS), que integra o diretório nacional e pertence à corrente majoritária.
Ferreira acredita que o mesmo tipo de relativização pode ser feito na Operação Lava-Jato.
- Estamos cascas-grossas nesse tema. Tem que ver se foi corrupção, se há envolvimento de dirigentes - destacou ele.
Desde as eleições, o partido está assombrado com a pecha de corrupto e tenta deixá-la para trás. Na tentativa de enfrentar o assunto, o PT divulgou, no final do mês passado, uma resolução sobre combate à corrupção. O texto, que tenta dar uma resposta às denúncias recentes, foi proposto pela Mensagem, segunda maior corrente da sigla, e aprovada por consenso. Houve apenas um ajuste no texto, com a saída da palavra “imediatamente”, ao tratar de eventuais expulsões de filiados. Com a concordância de todos, o texto final diz que será punido quem comprovadamente participar de atos de corrupção.
- É preciso haver o direito ao contraditório. Não podemos fazer prejulgamento - disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da Mensagem.
Numa reunião do diretório nacional, em Fortaleza, o tesoureiro João Vaccari, um dos alvos da investigação da Petrobras, foi ovacionado. Na ocasião, ele se disse injustiçado e se defendeu.
Também foram citados até agora na Lava-Jato os petistas Antônio Palocci, Humberto Costa, Gleisi Hoffmann, Tião Viana, Delcídio Amaral, Candido Vaccarezza e Vander Loubert.
Olívio Dutra defende expulsão de correligionários
Uma das vozes dissonantes no PT é a de Olívio Dutra, ex-ministro das Cidades do governo Luiz Inácio Lula da Silva e ex-governador do Rio Grande do Sul. Em entrevista à rádio Guaíba, no início do mês, ele defendeu que quem estiver envolvido no escândalo da Petrobras seja expulso do partido. Essa mesma posição já havia sido defendida por ele no mensalão.
Na época, o então secretário de Comunicação do PT, o então deputado André Vargas (PR), afirmou que Dutra estava sendo “pouco compreensivo”, pois recebeu o apoio dos petistas quando o Ministério Público Federal pediu seu indiciamento, em 2002, quando era governador, por ter se omitido na repressão ao jogo do bicho no Rio Grande do Sul.
Caso André Vargas
Ironicamente, Vargas teve seu mandato de deputado federal cassado no dia 10, com o apoio do PT, por suposto tráfico de influência em favor do doleiro Alberto Yousseff. No caso de Vargas, a direção do PT resolveu ser implacável porque tentou construir uma saída para ele, que não aceitou. Quando apareceram as denúncias contra Vargas, no início do ano, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu que ele renunciasse para não prejudicar as campanhas eleitorais do partido, principalmente a reeleição de Dilma, mas ele não concordou. Foi então pressionado a deixar o PT. Em reunião da qual Lula participou, na manhã da última quarta-feira, Falcão orientou os deputados presentes a votarem pela cassação. Mesmo assim, o presidente do PT e integrantes do partido demonstraram pesar pelo desfecho do caso Vargas.
Na eleição, o partido viu sua bancada na Câmara diminuir. Em 2010, o PT elegeu 86 deputados e atualmente está com 88. No ano que vem, serão 70. No Senado, a avaliação no partido é que o desempenho poderia ter sido melhor. O PT só elegeu dois senadores e ficará praticamente do mesmo tamanho. Nas disputas pelos governos estaduais, o partido conquistou Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, mas não reelegeu dois governadores: Agnelo Queiroz (DF) e Tarso Genro (RS)
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