- O Globo
A presidente Dilma, que colheu nas urnas em outubro uma vitória tāo difícil quanto a situaçāo econômica que legou a si própria, nāo teve tempo de curtir a reeleiçāo nem está tendo condiçōes políticas de montar um segundo governo que traga esperanças de melhores dias nos próximos quatro anos.
A escolha do economista ortodoxo Joaquim Levy para assumir um Ministério da Fazenda quase emergencial só fez realçar as incongruências da montagem do novo governo, pois os gastos escondidos no orçamento, a cada momento descobertos, fazem com que o estranho no ninho tenha que refazer seus projetos de controle de gastos para colocar uma ordem mínima na bagunça estabelecida.
Pressionada pelo escândalo da Petrobras, que nāo a deixa livrar-se das suspeitas que recaem sobre sua protegida Graça Foster e respingam nela mesma, que chefiou o setor nos últimos 10 anos como ministra das Minas e Energia e Chefe do Gabinete Civil da Presidência, Dilma nāo consegue montar o quebra-cabeça de seu novo ministério por que também aí há uma incoerência básica.
O ministério é montado na base da divisāo de feudos entre os partidos aliados, e foi esse conceito que desencadeou os escândalos em série que atingiram o PT desde o mensalāo. Os partidos políticos por sua vez estāo acuados com as diversas listas que pipocam no noticiário político, levando deputados e senadores de vários partidos a passarem para o noticiário policial sem escalas.
Como nomear ministros que podem estar em breve no banco dos rèus? Como eleger novamente Renan Calheiros presidente do Senado se ele está na lista dos delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Robeto Costa e pode estar também na do doleiro Alberto Youssef? Mas também com que força política a presidente contará para desagradar Renan Calheiros?
Constrangida ou nāo, Dilma continua a negociar com os partidos como se nada tivesse acontecido nos últimos dias.
Ė Renan quem distribui os cargos devidos ao PMDB do Senado, e confunde sua campanha para voltar a presidi-lo com os interesses de seus aliados, levando Inexoravelmente o segundo ministério de Dilma a se envolver com tenebrosas transaçōes que um dia podem cobrar seu custo institucional.
A presidente Dilma, que propôs um pacto contra a corrupçāo ao mesmo tempo que seu governo se envolve dia após dia nas teias das negociatas geridas pela Petrobras nos últimos 10 anos, nāo tem como organizar um ministério de homens acima de qualquer suspeita, e revela com isso os enredos subterrâneos que se desenvolvem sem que tenha condiçōes de freá-los, pois beneficiária deles.
Esse baixo astral que domina o país e já é registrado pelos próprios petistas, deve-se à realidade que cerca o atual governo, e continuará prevalecendo nos próximos anos: economia debilitada, podendo chegar a um PIB negativo ainda este ano ou no próximo, ou nos dois, o mais provável, e política caótica, com o PT dividido entre os que "amadureceram" na definiçāo da própria Dilma, e os que continuam renegando as necessárias flexibilizaçōes em nome de um esquerdismo que já nāo arrebata as multidōes e muitas vezes apenas esconde interesses subalternos revelados por delaçōes premiadas de bandidos dos mais diversos estratos sociais.
Além disso, a base aliada já foi mais fiel, e a cada dia se afasta mais do centro decisório do Palácio do Planalto, seja por que Dilma divide com muito poucos suas dúvidas ( as terá?), ou por que eles mesmos já sentem o vento virar em outras direçōes.
A popularidade da presidente medida pelos instiutos de pesquisas parece resistir bem aos infortúnios, mas até ela mesmo sabe que essa resiliência nāo resistirá às medidas severas que serāo inevitavelmente tomadas pela nova equipe econômica. Pelo menos os dois primeiros anos do novo governo serāo conturbados, e nāo há nenhuma indicaçāo de que o governo tenha cartas na manga para reverter a situaçāo. Nem que tenha consistência programática para segurar o leme quando a tempestaDe exigir firmeza da comandante.
Feliz Natal a todos. A coluna volta a ser publicada no dia 26.
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