- Folha de S. Paulo
Quatro deputados disputam hoje a presidência da Câmara. Um deles admite que vai perder: o historiador Chico Alencar, 65.
Eleito para o quarto mandato pelo PSOL-RJ, Chico é um anticandidato assumido. Lançou-se para protestar contra o nível do duelo entre os favoritos Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Ele acusa os rivais de competirem para ver quem promete mais benesses aos colegas, sem discutir os problemas que interessam à sociedade.
"A campanha se dá na base das negociações internas e do corporativismo. É dominada por jantares, viagens de jatinho e promessas de cargos e de mordomias", reclama.
Chico descreve Cunha como um deputado que "faz do mandato um investimento". "Ele é um símbolo da pequena política. Representa a política dos negócios, onde o público e o privado perdem fronteiras", afirma.
O azarão diz respeitar a história de Chinaglia, de quem foi colega no PT, mas o acusa de usar a máquina do governo para cooptar aliados.
"Os dois estão fazendo a pequena política, o fisiologismo. São métodos rasteiros que, se forem exitosos, revelarão o baixo padrão de cultura política do Parlamento", critica.
Sem chances de vitória, Chico defende ideias impopulares entre a maioria dos colegas. É contra o aumento das verbas de gabinete e defende a cassação de quem for denunciado por corrupção na Petrobras.
"Quanto mais digo isso, menos votos tenho", brinca o anticandidato. "A Lava Jato pode revelar, de modo assustador, a degradação profunda dos grandes partidos. Parece que o pessoal não está atento a isso. O abismo entre os representantes e representados ficou muito grande. Se a gente não prestar atenção, o trem da história nos atropela", alerta.
É um discurso incômodo, mas Chico promete repeti-lo hoje na tribuna. "O Eric Hobsbawm dizia que o papel do historiador é lembrar o que os outros querem esquecer. A razão da minha candidatura está aí", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário