- O Estado de S. Paulo
O principal líder de oposição não é Fernando Henrique, Aécio, Alckmin ou Serra e nem mesmo Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Quem comanda a oposição a Dilma Rousseff é o seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva.
Um tucano falar mal do governo faz parte do jogo. Um aliado peemedebista criticar Dilma já faz parte da rotina. Mas, quando Lula abre a boca para criticar o governo Dilma, o estilo Dilma, o autoritarismo de Dilma e o fracasso de Dilma na economia, tudo muda de figura. E quando ele faz isso justamente em Brasília e justamente quando a presidente está nos Estados Unidos, a coisa fica ainda mais feia.
A sensação óbvia é que Lula desembarcou na capital da República para assumir o controle da situação e do governo, até porque ele se reuniu com o marqueteiro João Santana, com as bancadas do PT e com cabeças pensantes do PMDB, mas em nenhum momento o vice e coordenador político oficial, Michel Temer, esteve presente. Sem Dilma, sem Temer, sem Joaquim Levy, quem é o rei do pedaço?
Só isso explica o PT virar as costas tão resolutamente para seu passado. Como imaginar o partido defendendo presos por corrupção? E empreiteiros presos por bilhões de motivos? Ou condenando o ministro da Justiça por "não controlar" a Polícia Federal?
Quando o País finalmente descobriu que o primeiro mandato de Dilma foi um fracasso, era de se esperar que Lula protegesse a presidente e batesse no peito: "Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa". Mas não. A primeira coisa que fez foi descarregar a culpa em Dilma e tirar o corpo fora.
Quando Lula declarou que ele, Dilma e o PT estão no "volume morto" e que os petistas só pensam em cargos, era de se esperar que alguém saísse em defesa da presidente e do partido. Mas não. A bancada do PT no Senado fez uma nota virulenta de apoio a Lula, sem uma palavra de apoio a Dilma e ao partido.
Quando a Lava Jato disparou, era de se esperar todo o apoio do velho PT de guerra a essa urgente limpeza na Petrobrás. Mas não. O que se viu foram os petistas, indignados, apontando o dedo contra o juiz Sérgio Moro. Protejam-se os corruptos, pau no juiz!
Quando a Justiça, o Ministério Público e a PF, num gesto inédito e histórico, meteram grandes empreiteiros e seus maiores operadores na cadeia, era de se esperar que o PT, criado em nome da ética e da justiça social, liderasse o apoio a essas instituições. Mas não. O que se viu foi o contrário: a Executiva Nacional defendeu as empreiteiras e... condenou o ministro da Justiça.
E, agora, quando os presos começam a botar os podres para fora, atingindo dois ministros com gabinete no Planalto, temos Dilma em Nova York furiosa com os meios – a delação premiada –, ignorando os fins – a busca da verdade e o combate à impunidade de poderosos. Sem falar que confundir delação premiada legal com confissão sob tortura está abaixo de qualquer crítica. Além de ser cruel com os torturados.
Tudo, portanto, está de pernas para o ar. E, se Lula, Dilma, José Dirceu, os tesoureiros Delúbio Soares, José de Filippi Jr., Edinho Silva e João Vaccari Neto e uma penca de ministros não têm culpa de nada, a culpa, além de ser do juiz Moro, dos procuradores, dos policiais e da imprensa, é de... José Eduardo Cardozo!
Cardozo nunca foi citado no mensalão, nem na Lava Jato, nem nas delações de peixes graúdos. Então, qual a culpa dele? Segundo o PT, é não ter ordenado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que não se metesse a besta com poderosos, empreiteiros, companheiros e, muito menos, com as campanhas de Lula e Dilma. Seria de rir, não fosse de chorar.
Cardozo não faria; se fizesse, Daiello daria uma gargalhada na cara dele; se Daiello não risse, os policiais dariam de ombros para ele; se os policiais não dessem de ombro, procuradores e juízes passariam por cima deles. E, se nada disso ocorresse, o PT no poder está esquecendo do principal: a opinião pública brasileira não engoliria calada.
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