Raymundo Costa, Andrea Jubé e Raquel Ulhôa - Valor Econômico
BRASÍLIA - Depois de insinuar que deixará a presidente Dilma Rousseff entregue à própria sorte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com PT e PMDB, em Brasília, com o discurso da unidade do PT e da estabilidade política do governo para por um fim à agenda negativa. Lula também opinou sobre a reforma política - é contra o fim da reeleição -, fez palestra "motivacional" às bancadas do PT no Senado e na Câmara do PT, discutiu o formato do programa partidário deste semestre, na televisão, e especulou sobre mudanças no Planalto.
Lula pretende se encontrar com a presidente, assim que Dilma voltar dos EUA. Seria a primeira conversa, entre os dois, depois que Lula disse que ambos estavam no "volume morto". Dilma não gostou. A olho nu, a movimentação do ex-presidente em Brasília dá razão aos que dizem que ele atacou Dilma e o PT com o objetivo de ser ouvido e influir mais no governo. Se dependesse do ex-presidente, por exemplo, o ministro Jaques Wagner (Defesa) estaria na Casa Civil, no lugar do ministro Aloizio Mercadante.
O assunto foi mencionado com interlocutores específicos. Mas até o PMDB, crítico da atuação de Mercadante, acha que o momento é inadequado: o nome do ministro está entre aqueles políticos relacionados na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC. A demissão ou mudança de Mercadante para outro ministério poderia soar como uma confissão de culpa, quando o Palácio do Planalto, ao contrário, armazena munição para atacar a denúncia.
Lula recolheu dos partidos, especialmente do PMDB, a opinião de que a presidente tem que assumir ela própria o comando da agenda política do país. O PMDB pode fazer a coordenação política para aprovar as matérias de interesse do governo no Congresso, a exemplo que fez com as medidas do ajuste fiscal, mas não baste para reverter a crise. É preciso também que Dilma erre menos, aborde os assuntos com sobriedade e pare de brigar com o Congresso por ideologia, como estaria ocorrendo nas questões relativas à Petrobras.
Em périplo por Brasília, Lula se reuniu também com João Santana e senadores do PMDB na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na palestra às bancadas, classificada de" motivacional", pelos presentes, Lula disse que os petistas terão de conviver, por muito tempo ainda, com denúncias da Operação Lava-Jato, e é preciso reagir. O ex-presidente ressaltou que ele, o PT e o governo são uma coisa só. Lula afirmou que "não há saída individual". Segundo o ex-presidente, Dilma tem "caráter" e compromisso com as causas e as pessoas.
Uma das maiores preocupações manifestadas por Lula foi com o carimbo de partido corrupto que, na sua opinião, não está sendo rebatido pelos petistas. Na reunião com a bancada federal do PT, da qual participou também o presidente do partido, Rui Falcão, o ex-presidente disse que o partido está apanhando muito sem se defender. A tônica, agora, é "bateu, levou", relatou um petista.
Lula e Santana discutiram que a linha do programa de TV do PT deve reconhecer os problemas do país - as crises econômica e política -, mas ao mesmo tempo apontar para um futuro melhor, pós-ajuste fiscal. O programa vai ao ar no dia 6 de agosto.
No café da manhã na residência oficial do presidente do Senado, Lula criticou o fim da reeleição e manifestou preocupação com o isolamento da presidente Dilma Rousseff em relação aos demais Poderes. Disse que sempre defendeu uma melhor interlocução de Dilma com o Legislativo e o Judiciário.
"O presidente Lula disse que vai propor à presidente que converse com os outros Poderes", afirmou Renan. Segundo o presidente do Senado, Lula esteve em "missão de paz" em Brasília. O ex-presidente pediu que os aliados ajudassem o governo a se livrar da pauta negativa.
O presidente do Senado afirmou que o principal tema da conversa foi reforma política. Foi quando Lula afirmou ser contrário ao fim da reeleição. "Ele colaborou bastante com a discussão. Dentre outras coisas, ele disse que não achava oportuno o fim da reeleição. Ele entende que o mandato de quatro anos é um mandato muito curto para não ter reeleição. Se fosse um mandato de cinco, tudo bem, mas ele acha difícil a extensão dos mandatos para cinco anos."
A proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada pela Câmara dos Deputados em primeiro turno acaba com a reeleição para presidente, governador e prefeito, mas amplia todos os mandatos de quatro para cinco anos. No entanto, essa proposta de ampliação dos mandatos enfrenta resistência no Senado, porque, no caso dos senadores, significa redução de oito anos para cinco. Como os três senadores de cada Estado são eleitos alternadamente (um em uma eleição e os outros dois, na seguinte, quatro anos depois), manter essa fórmula significaria ampliar os mandatos dos senadores para dez anos, o que é considerado politicamente inviável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário