- Folha de S. Paulo
O PT convocou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para um depoimento a portas fechadas. O objetivo é cobrá-lo sobre as últimas operações da Polícia Federal, que têm tirado o sono do governo e de dirigentes do partido.
Em resolução aprovada na semana passada, os petistas batem duro na Lava Jato e acusam "setores" da polícia, da Justiça e do Ministério Público de atuarem de forma "ilegal, antidemocrática e seletiva". Como não há exemplos concretos, a queixa parece refletir apenas a irritação com as prisões de companheiros.
O texto também sustenta que há um "estado de exceção sendo gerado, em afronta à Constituição". Em outra passagem, defende as empreiteiras do petrolão e diz que "é preciso apressar os acordos de leniência" e "impedir a quebra das empresas".
O documento omitiu o nome de Cardozo, mas os petistas não têm poupado adjetivos para criticá-lo. Reservadamente, dizem que ele "não controla a PF" e deveria agir em defesa dos colegas de partido em apuros. Se as queixas estiverem corretas, o ministro merece elogios por respeitar a autonomia da polícia e a impessoalidade de suas investigações.
Desde o início do ano, Dilma Rousseff já citou a PF em ao menos cinco discursos. Na posse, em 1º de janeiro, exaltou sua "absoluta autonomia" como "instituição de Estado". Em 16 de março, afirmou que o Brasil é "um país em que o Executivo assegura absoluta liberdade de ação à Polícia Federal". Dois dias depois, disse que fortaleceu o órgão e garantiu "sua absoluta autonomia e isenção para investigar".
Se os petistas divergem dessas ideias, deveriam convocar a presidente, não seu subordinado, para dar explicações ao partido.
Ressuscitada de forma oportunista, a bandeira do parlamentarismo pode servir a muitos fins. Entre eles, o de entregar o poder a quem não o alcançaria pelo voto popular.
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