- O Globo
A meta está certa. O prazo é longo demais, o que enfraquece o compromisso. Há muitos anos as organizações de defesa do meio ambiente defendem o desmatamento líquido zero. Seria adequado e possível assumi-lo para 2020. A presidente Dilma anunciou, em Washington, que o Brasil cumprirá este objetivo em 2030, daqui a 15 anos. Assim, o anúncio fica sem sentido.
O Brasil já havia aceitado o compromisso internacional de levar o desmatamento a 3.300 km2 por ano em 2020. Estava quase lá quando, nos dois últimos anos, a curva se inverteu e o desmatamento voltou a crescer como consequência dos sinais ambíguos dados pelo governo, como, por exemplo, diminuir o tamanho de áreas de proteção ambiental na Amazônia.
O anúncio na Casa Branca é a parte mais vistosa de uma viagem que foi ofuscada pelas novas informações da Operação Lava-Jato, que colocaram alguns dos ministros, e até a campanha da presidente, no meio das dúvidas levantadas a partir dos depoimentos dos envolvidos. A despropositada comparação feita pela presidente, dos delatores da Operação com os delatores da ditadura e os traidores da Inconfidência Mineira, ocupou o noticiário no primeiro dia. Ontem, foi lançada a proposta ambiental que poderia ter sido boa, mas, pelo enorme tempo que a presidente estabelece até atingir o alvo, fica claro que é uma peça de marketing. Se quisesse mesmo combater o desmatamento, bastaria à presidente alterar o compromisso feito para 2020, transformando-o em desmatamento líquido zero, e começar imediatamente a tomar medidas para reduzir a destruição ambiental.
A proposta de ampliar o comércio é excelente, mas desde que seja pelas exportações do Brasil, porque, nos últimos anos, foram as importações que dispararam. O país deixou de fazer esforços para entrar no mercado americano e saiu de um superávit comercial de US$ 7,1 bilhões, em 2003, para um déficit de US$ 7,9 bilhões no ano passado. As exportações em 2014, de US$ 27 bilhões, estão no mesmo nível de 2008. Ao mesmo tempo, as importações saíram de US$ 9,5 bilhões, em 2003, para US$ 35 bilhões no ano passado.
A análise do intercâmbio comercial entre os dois países é ilustrativa de um erro da política energética. O subsídio aos combustíveis fósseis fez o consumo de gasolina e diesel aumentar. Enquanto nosso principal produto exportado é um item básico, petróleo bruto, com US$ 3,4 bi receitas, o item que mais compramos dos americanos é óleo diesel. Nossa importação de diesel dos EUA aumentou 32% de 2013 para 2014. Já a exportação de petróleo caiu 2% no período. Mostra também o erro de deixar a ideologia contaminar a política comercial.
Em mais uma das demonstrações da sua incapacidade de retratar a realidade, a presidente Dilma explicou a crise brasileira como reflexo da que atingiu os Estados Unidos há sete anos. A verdade é que a crise brasileira foi criada internamente. Não há razão externa para um rombo nas contas públicas de 7,9% do PIB em termos nominais, como o que foi divulgado ontem. Isso é resultado da administração de alto risco do primeiro mandato. Está na hora de a presidente parar de culpar o mundo e olhar o que seu governo tem feito para tirar o país da situação em que está.
O compromisso ambiental feito pela presidente em Washington significa, na prática, que a meta desejável de estancar a destruição da Amazônia será atingida no último ano do terceiro mandato presidencial após o fim do governo Dilma. Parece nada e é nada mesmo.
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