sexta-feira, 8 de maio de 2015

Míriam Leitão - O custo alto

- O Globo

A ata do Copom fez bancos e consultorias revisarem previsões para os juros. Acham que haverá novo aumento da Selic, apesar de a taxa já estar em 13,25%. O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, disse que o BC deveria ter parado: "O BC está aumentando juros com desemprego em massa impressionante, desaceleração forte dos salários e o mundo corporativo em crise."

A visão de Octávio de Barros é que a inflação vai cair para o centro da meta até o começo de 2017, e ele diz que dos "27 países mais importantes que utilizam o regime de metas de inflação, o Brasil é o único que utiliza o ano-calendário como referência". Portanto, na visão dele, a política monetária estaria cometendo um "tremendo exagero" , e defende que o objetivo seja olhado num prazo mais longo do que o ano.

O problema é que o Banco Central está diante de uma inflação que não ficou no centro da meta em nenhum ano do primeiro mandato da presidente Dilma e agora está estacionada acima de 8%. Isso vai se confirmar hoje com a divulgação do IPCA de abril. Pela primeira vez em 2015, a taxa mensal ficará abaixo de 1%, mas o acumulado em 12 meses continuará acima de 8%.

A leniência no combate à inflação no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff está custando caro ao país. Somente em gastos com juros, foram R$ 365 bilhões pagos pelo Governo Federal nos últimos 12 meses até março, segundo a nota de crédito divulgada recentemente. Essa conta vai ficar maior. Os juros continuarão subindo, de acordo com a ata do Copom, apesar de a economia estar em recessão.

O Itaú acha que os juros subirão de novo, mas apenas mais 0,25 ponto percentual. O BC espalhou pistas, ao longo da ata divulgada ontem, de que o ciclo de aperto monetário ainda não terminou. Disse que "o s esforços de combate à inflação ainda não se mostraram suficientes". A situação do país é realmente difícil. Está em recessão e com inflação alta demais, o que leva o Banco Central a manter juros elevados e crescentes. A situação fiscal está piorando, em parte pelo efeito dos juros altos.

É um círculo de más notícias difícil de ser quebrado. O BC não pode simplesmente baixar os juros, porque, neste momento, fortaleceria a elevação da inflação. Na curiosa linguagem do Banco Central, "o ritmo de atividade doméstica este ano ser á inferior à potencial". E diz que há uma redução de investimentos "influenciada pela ocorrência de eventos não econômicos".

Crescimento abaixo do potencial é gentileza do Banco Central. Na verdade, o PIB fechará o ano encolhendo. E eventos "não econômicos" pode ser lido também como Operação Lava-Jato. Um custo alto dessa conjuntura é a deterioração do mercado de trabalho. O desemprego subiu de 6,5% em dezembro para 7,9% no indicador da Pnad de março, que pesquisa o desemprego em todo o Brasil. A desocupação entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 17,6%. O Banco Central escreveu na ata de ontem que "a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los em 2015."

O BC explicou que os preços estão subindo pelo aumento do dólar e das tarifas administradas — que ficaram represadas no ano eleitoral — mas re conheceu, logo no primeiro parágrafo da ata, que não é apenas isso. Os alimentos e bebidas subiram 8,19% nos 12 meses até março e os serviços aumentam 8,03%. "Em síntese, as informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que reflete, em parte, a dinâmica dos preços no segmento de serviços e, no curto prazo, o processo de realinhamento dos preços administrados", escreveu o BC.

Mesmo alertando que continuará elevando os juros, o Banco Central deve fazer apenas um pequeno movimento porque a redução do nível de atividade vai diminuir o impulso para a inflação continuar subindo. Como grande parte da alta este ano é causada pelo aumento dos preços de energia, que estavam reprimidos pelos equívocos da política energética, parte dessa alta de inflação este ano tem chance de se dissolver no ano que vem. O problema é que o descuido com a inflação foi tão grande que o BC precisa agora elevar os juros para demonstrar que não será leniente. Se não fizesse isso, poderia alimentar o reajuste de outros preços pelos níveis da inflação de 8%. E nesse nível ficaríamos.

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