• Relatório da Operação Zelotes diz que Mauro Marcondes, acusado de "comprar" MPs, tinha relação de 'proximidade' com o petista
Por Fábio Fabrini e Andreza Matais e Julia Affonso - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - BRASÍLIA - Documentos apreendidos na Operação Zelotes indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve contato com o lobista Mauro Marcondes Machado em agosto de 2013, período em que ele negociava a medida provisória 627, sob suspeita de ter sido “comprada”. A MP foi editada em novembro do mesmo ano pela presidente Dilma Rousseff e favoreceu clientes do lobista. Relatório da investigação, obtido pelo Estado, diz que Lula e Marcondes, preso na última segunda-feira, tinham relação de “proximidade”.
Num dos papeis recolhidos no escritório do lobista, cujo título é “Pendências Dr. Mauro Marcondes (16/08/2013)”, estão descritos compromissos a serem cumpridos por ele na negociação de interesses de seus clientes, entre eles montadoras de veículos. Um dos itens registrados é: “Colocar Dr. Mauro em contato com o Presidente Lula – Instituto Lula”.
Para a Inteligência da Receita Federal, que produziu análise sobre os documentos, as “anotações do lobista revelam a existência de proximidade com o ex-presidente Lula”, tendo em vista seu “planejamento de contato telefônico e pessoal” com o petista.
Lula não é investigado na Zelotes. Mas, em nova fase da operação, a Polícia Federal fez na última segunda-feira, 26, buscas no escritório de um dos filhos dele, Luís Cláudio Lula Silva. Luís Cláudio é investigado por, supostamente, receber recursos relacionados à edição da MP 627 por meio de uma de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo. Os pagamentos foram feitos pela firma de Marcondes em 2014. Os repasses somaram R$ 1,5 milhão, o que o Ministério Público Federal considera “muito suspeito”.O filho de Lula sustenta que os valores se referem a serviços prestados para a empresa de Mauro Marcondes em sua área de atuação, o marketing esportivo.
A MP 627 – que trata de incentivos para grandes empresas, entre elas montadoras de veículos que contrataram o lobista – foi editada pela presidente Dilma Rousseff em 11 de novembro de 2013. Entre as “pendências” de Mauro Marcondes em agosto daquele ano, constam ainda “ligar para Gilberto Carvalho”, na época ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e uma reunião com o então ministro do Desenvolvimento e hoje governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), para tratar de benefícios para a indústria de pneus.
Pimentel é investigado em outra operação, a Acrônimo, por suspeita de “vender” portarias do Ministério do Desenvolvimento para a CAOA, cliente de Marcondes.
A Inteligência da Receita destaca em seu relatório que o lobista tinha “trânsito facilitado com outros agentes públicos, especialmente do PT”, o que pode ser depreendido de outra lista de agendamento de reuniões, de 17 de abril de 2013. Entre os citados, estão o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-senador e atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Todos são petistas.
Em 2012, anos de eleições municipais, a empresa de Mautoni contribuiu com o Comitê Financeiro do PT. O valor foi simbólico, ante aos recursos vultosos movimentados pela firma: R$ 25 mil.
Procurado pelo Estado, o Instituto Lula alegou desconhecer “o relatório e o documento citados”. “Para avaliarmos as respostas às perguntas (da reportagem), necessitamos da documentação original citada”, explicou, em nota, acrescentando que a defesa de Luís Cláudio também não tem ciência do material.
A Marcondes e Mautoni, procurada pelo Estado desde a última segunda-feira, não se pronunciou sobre os dados da investigação. A defesa de Fernando Pimentel afirma que não comenta o conteúdo da Operação Acrônimo.
Em nota, Mercadante informou que nunca teve relação “pessoal e específica” com os sócios da Mautoni. “Se ele (Mauro Marcondes) me encontrou alguma vez, foi na condição de dirigente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos)”, afirmou. O ministro acrescentou que, em 2009 e 2013, não participou da elaboração das medidas provisórias investigadas.
O Estado não conseguiu contato com Antonio Palocci e Luiz Marinho nesta quarta-feira.
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