Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Entre o PT e salvar mandato, a opção da presidente Dilma Rousseff é salvar o mandato. O sinal mais claro enviado por ela, nesse sentido, foi sua ausência na festa dos 36 anos do Partido dos Trabalhadores, no fim de semana. O mais efetivo é a aliança com o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, em torno de uma agenda para melhorar o ambiente econômico, cujo item mais vistoso, até agora, foi a aprovação das mudanças das regras sobre a exclusividade de participação da Petrobras na exploração da camada pré-sal.
Os setores do PMDB mais próximos do vice-presidente Michel Temer também estão revendo sua estratégia em relação ao impeachment. Ontem o presidente da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), Moreira Franco, disse ao Valor que o apoio de 60% da população ao afastamento da presidente não é suficiente para a deflagração do processo no Congresso. Franco acha que Dilma, em vez de gastar energia tentando combater o impeachment no Congresso, deveria propor uma agenda para o país sair da crise. O PMDB aceita conversar.
Com o PT se distanciando da presidente da República, o PMDB poderá ocupar o espaço vazio deixado pelo partido da presidente, segundo fontes pemedebistas. O senador Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado, chegou a sugerir que Dilma saia do PT para negociar uma agenda com os partidos, inclusive os de oposição. De concreto, há o entendimento entre Renan e Dilma e o acordo tácito entre Renan e os partidos para a votação de uma agenda de emergência, sem obstruções da pauta.
Dilma já apresentou suas prioridades: a CPMF e a reforma da Previdência. E mandou dois sinais entendidos pelos senadores como de aval para o acordo: não foi à festa do PT e orientou as bancadas governistas a votar o projeto que muda as regras de participação da Petrobras na exploração do pré-sal, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP). Dilma fala com Renan que fala com o PSDB - essa é a consertação. O PT ficou contra. Em sua estreia na função, o novo líder do governo, Humberto Costa (PT-PE), foi apanhado no contrapé
A pauta do PMDB combinada com a presidente inclui dois outros itens, além do pré-sal: a votação do projeto de autonomia do Banco Central, na prática a fixação da descontinuidade no mandato dos diretores, e um projeto que proíbe a alteração de contratos por meio de medida provisória. O acordo entre os partidos é votar e não necessariamente aprovar. O senador José Serra, por exemplo, é contra o projeto de autonomia do BC.
Até recentemente, era o PT quem dizia que entre Dilma e o partido a opção seria o partido. Já estratégia de Dilma para salvar o mandato passa por uma aliança pelo centro. As propostas do PT para a agenda de emergência têm poucas chances de êxito, como a cobrança de IPVA sobre barcos e aeronaves. O PT se isolou e preferiu se agarrar a suas bandeiras históricas, principalmente depois que as últimas pesquisas de opinião mostraram que o ex-presidente Lula da Silva continua a ser um candidato competitivo.
Os últimos revezes sofridos pelo deputado Eduardo Cunha, no conselho de ética e no Supremo Tribunal Federal, também animaram o Palácio do Planalto e seus aliados entre os senadores. Mesmo que o deputado não saia agora, já existe a expectativa de poder em torno do líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) - a rigor, se não perder o cargo ou o mandato, Cunha tem pouco mais de nove meses a cumprir na presidência da Câmara, cada dia mais desgastado por seu envolvimento na Operação Lava-Jato.
Na expectativa de Renan a presidente Dilma Rousseff cumpre o mandato até o fim. O presidente do Senado entendeu-se com o vice-presidente Michel Temer sobre a composição da executiva nacional, na convenção marcada para o dia 12. O impeachment esfriou, mas pode ser retomado na hipótese de surgirem fatos novos ou ganharem corpo as manifestações de rua, como as programadas para o dia 13.
Renan é alvo da Lava-Jato, mas segundo seus aliados nada de concreto até agora foi apresentado contra o senador alagoano. A rigor - dizem - somente foi encontrado dinheiro da Lava-Jato nas contas de diretores da Petrobras, de Eduardo Cunha e do senador Fernando Collor (PTB-AL). O Ministério Público ainda terá que provar para os tribunais que o dinheiro recebido oficialmente pelas campanhas eleitorais pode ser identificado como tendo origem na corrupção.
"O impeachment não é consequência de iniciativa de uma pessoa, mesmo que ela seja o presidente da Câmara" disse Moreira Franco. "O impeachment é obra da opinião pública, não é obra de nenhuma das instituições. Nem do Tribunal Superior Eleitoral, nem da Câmara nem do Senado. Elas dão a forma. Elas dão a solução legal, definem os processos, mas politicamente é na sociedade que isso se conforma".
Segundo Franco, a convenção nacional do partido, a ser realizada no dia 12, não vai discutir o rompimento com o governo. "O partido está dividido e nós não somos aventureiros. Partido faz política e política se trabalha com maioria, não se trabalha com consensos", disse o presidente da FUG. "Consenso é uma utopia autoritária. A maioria é o método democrático para você tomar uma decisão - isso é uma coisa essencial que no Brasil está se perdendo pela intolerância".
Levantamentos feitos pela FUG indicam que 80% dos dirigentes e militantes do PMDB querem o fim da aliança com o PT, mas em relação ao impeachment a relação é a mesma verificada nas pesquisas de opinião, de 60 a 40, o que Moreira Franco diz ser ainda pouco para justificar um pedido de impeachment.
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