- Folha de S. Paulo
A demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deixou claro que Lula –com medo de ser preso e sem apresentar até agora argumentos convincentes para justificar os presentes que recebeu de empreiteiras, bem como para os R$ 2,4 milhões pagos ao seu filho– está disposto a fazer qualquer coisa para frear a Lava Jato.
O primeiro ato de sua guerra particular foi avisar a presidente que, se não entregasse a cabeça do ministro, a quem responsabiliza pelo "descontrole" da PF, deixaria a defesa do governo "em segundo plano".
O recado foi entendido como uma ameaça de entregá-la à própria sorte na luta contra o impeachment. Lula, evidentemente, não tem como garantir a sobrevivência do governo. Mas é certo também que o governo não sobrevive sem ele e os votos do PT.
Compreendendo que o tal fim da "fase paz e amor", anunciado por Lula no aniversário do PT, não se tratava de uma bravata de palanque, Dilma trocou o ministro. Colocou no lugar um procurador desconhecido, que ascendeu pelas mãos de Jaques Wagner, o chefe da Casa Civil que, em seguida, declarou considerar "injustas" as denúncias contra Lula.
Dilma fez ainda mais. Em jantar com deputados, prestou solidariedade ao antecessor, argumentando que "todo mundo comete erros" (todo mundo quem?), e afirmou que o governo não pode deixar a ofensiva da PF contra Lula "passar dos limites".
Sejam quais forem os limites imaginados pela presidente, no entanto, não basta enquadrar a PF, se é que isso é realmente possível –há quem entenda que toda essa situação levará a PF a reafirmar a sua independência, o que também é algo indesejado, se feito a fórceps.
De qualquer modo, para frear a Lava Jato, a operação Salva Lula teria de, mediante um jogo pesado de pressão, envolver o Ministério Público e, sobretudo, o Judiciário, o que é improvável, mas não custa prestar atenção. No fundo, o que está sob teste é a maturidade das instituições.
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