• Reaproximação de Renan e Temer preocupa Planalto
- Valor Econômico
Mais do que o PT, é a reaproximação entre Michel Temer e Renan Calheiros que preocupa o Palácio do Planalto. O vice-presidente e o senador do PMDB alagoano almoçaram na quinta-feira da semana passada no Palácio do Jaburu. Participaram do almoço o ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, e os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, atuais presidente e vice-presidente da Fundação Ulysses Guimarães.
Afastados em dezembro, depois do desgaste provocado pela nomeação da comissão do impeachment na Câmara dos Deputados, em que o vice-presidente se opôs a uma representação exclusivamente governista do PMDB, Renan e Temer já somam dois encontros este ano. Acertam-se sobre a montagem da chapa de Temer, que será reconduzido à presidência do PMDB no dia 12.
A manifestação do dia seguinte, a primeira do ano liderada pelos movimentos pró-impeachment, conformará o alcance político dessa reaproximação. Ao longo dos últimos cinco anos, a presidente Dilma Rousseff apostou na divisão do PMDB para melhor governar. Apenas a primeira metade dos seus planos foram concretizados. Agora que o partido está prestes a ser pacificado, custará a realizar a outra metade.
Um dos maiores aliados do governo no PMDB, Renan coleciona processos no Supremo. Um deles, por notas falsas apresentadas ao Conselho de Ética, em defesa contra cassação de mandato, teria chegado ao plenário da Corte no fim de fevereiro não fosse a decisão do ministro relator, Luiz Edson Fachin, de retirá-lo de pauta. O freio contou com o apoio do ex-senador José Sarney, discreto operador do aval do Senado à indicação do ministro ao STF.
Com a chegada no Supremo do processo que o envolve na Lava-Jato, o presidente da Câmara pode não ter a mesma sorte. Um aliado da presidente resumiu as expectativas que cercam o destino de um dos principais adversários do Planalto. "Se Eduardo Cunha fosse preso hoje, no dia 13 haveria cinco milhões na rua pedindo a saída de Dilma". Face à unidade pemedebista, a velocidade com a qual o processo contra o deputado pemedebista anda no Supremo preocupa governistas. Aliados da presidente já se perguntam por que motivo os processos contra o presidente do Senado não andam no mesmo ritmo daqueles que envolvem o presidente da Câmara. Temem que esse desconforto venha à tona e seja interpretado por Renan como indício de ingerência do Planalto em seus processos no Supremo.
O congraçamento pemedebista contemplará Renan com a permanência do senador Eunício Magalhães (CE) na tesouraria do partido, cargo que administrará fundo partidário triplicado no orçamento sob a justificativa de que as legendas ficarão desprovidas de doações empresariais. O presidente do Senado terá ainda duas vice-presidências na chapa. A primeira delas abrigará Romero Jucá (RR), senador que Renan, antes do recuo, quis empurrar para medir forças com Temer.
Aparadas as arestas com o Senado, a última pendência de Temer para a unidade pemedebista é a cota fluminense, a ser acertada em visita do vice-presidente ao Rio, segunda-feira, na última parada do périplo de sua campanha para manter o comando do partido.
Sua reeleição por um PMDB unido reposiciona o impeachment à frente da cassação no TSE, que ameaça titular e vice, como saída para a crise. Um ministro pemedebista, embalado pelos ventos da unidade, chegou a dizer esta semana a um interlocutor que enquanto Dilma estiver no cargo, nada se move no país.
Pemedebistas têm a expectativa de que os embargos contra o congelamento do impeachment pelo plenário do Supremo, em dezembro do ano passado, sejam parcialmente acolhidos. São expectativas conflitantes com aquelas do entorno da presidente Dilma, que dá por certa a manutenção dos votos dos ministros nas decisões que deram ao Senado a última palavra no processo e aos líderes dos partidos a prerrogativa na indicação da comissão do impeachment.
O PMDB, no entanto, ainda está longe de dar as costas à presidente. A unidade redobra o cacife tanto de Temer quanto de Renan. O presidente do Senado é patrono da causa de Estados, incluído aquele governado por seu filho, que tentam flexibilizar o aval do Tesouro a novos empréstimos. Também marca pontos junto à oposição ao fazer andar projetos, com o aval do Planalto, como o da limitação da Petrobras no pré-sal.
Já o vice-presidente chegou a dizer a amigos esta semana que não recusaria um chamado da presidente para encabeçar a rearticulação política do governo, mas vê essa possibilidade cada vez mais distante. Desde o almoço com a vice-presidente argentina Gabriela Michetti na semana passada, o vice-presidente sente-se mais influente no outro lado da bacia do Prata. Sua colega argentina teria recebido com entusiasmo a agenda pemedebista e prometido levá-la à rodada de reformas negociada pelo presidente Maurício Macri com o Congresso argentino.
O compromisso do partido com a pauta fiscal não chega a entusiasmar o PMDB em defesa do projeto do Executivo que limita os supersalários. O projeto atinge em cheio interesses do Judiciário, poder em que está pendurado o futuro de dirigentes pemedebistas e de um em cada quatro parlamentares brasileiros.
A manutenção de prerrogativas do Judiciário é, em grande parte, resultante da resiliência pemedebista nos postos-chave do Congresso nas últimas décadas. O Senado, Casa que sabatina e aprova os ministros do Supremo, teve 12 presidentes desde a redemocratização. Apenas dois deles não foram do PMDB, Antonio Carlos Magalhães (PFL) e Tião Viana (PT). Foram os cinco mandatos acumulados na presidência do Senado que, em grande parte, deram a Sarney e a Renan o prestígio que desfrutam junto à elite da toga.
Eduardo Cunha é o primeiro integrante da elite pemedebista que deve, de fato, sentar no banco dos réus do STF. Mais unido do que nunca, o PMDB assiste ao espetáculo de braços cruzados. O presidente da Câmara é o garrote a ser sacrificado para o partido manter a harmonia com o Judiciário e dar sequência ao seu projeto de poder.
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