• Depoimento de Dilma e inflação pesam a favor
- Valor Econômico
Três monitoramentos de opinião pública que utilizam critérios diferentes de apuração apontam que falta "marca" no governo de Michel Temer. Com dois meses no exercício do cargo e fazendo um esforço para evitar aumento ou criação de impostos e tributos, o presidente interino não inverteu sua baixa popularidade. Nem por isso, a atual gestão está condenada ao fracasso - resultado difícil de alcançar com sua equipe econômica e com o lastro de quatro personalidades que também compõem o governo e são tidas como escudo de proteção pelo setor privado: Henrique Meirelles, ministro da Fazenda; Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central; Maria Silvia Bastos, presidente do BNDES, e Pedro Parente, presidente da Petrobras.
Ipsos, Ibope e .MAP divulgaram relatórios na semana passada e tanto os institutos quanto a consultoria de análise e pesquisa em redes sociais e com formadores de opinião mostram que Temer ainda não decolou e que mais e menos favorecidos comungam o mesmo credo, quando empenhados em avaliar o presidente interino e seu governo. A pesquisa Pulso Brasil, da Ipsos, revela que na Classe AB, 38% consideram a atuação de Michel Temer ruim ou péssima; na Classe C, 47% tem semelhante entendimento; e nas Classes D/E, 42%. A mesma pesquisa feita com 1.200 entrevistados em 72 municípios brasileiros entre 2 e 13 de junho responde que algo parecido acontece quando se pergunta se o rumo do país está "certo" ou "errado". Nessa questão, nas Classes AB e D/E 88% consideram o rumo "errado" e, na Classe C, 90% pensam o mesmo.
Pesquisa CNI/Ibope - realizada entre 24 e 27 de junho com 2.002 entrevistados em 141 municípios brasileiros - traz 39% de avaliação "ruim ou péssimo" para o governo Temer; 36% consideram "moderado" e 13% "bom ou ótimo". A avaliação pessoal do presidente interino é positiva para 11%. A mesma sondagem diz que o governo é lembrado sobretudo pela demissão de três ministros.
A.MAP Mapeamento, Análise e Perspectiva relata que, na semana encerrada em 30 de junho, retrata queda de 38% para 22% no índice de positividade de Michel Temer. O IP de Política espelhou essa avaliação e recuou de 53% para 44%. A percepção de que o "ajuste político" se impõe sobre o "ajuste fiscal" contamina as expectativas na semana em que o governo consolida como aposta para ultrapassar a barreira do impeachment a conquista do apoio do Judiciário, com os reajustes salariais, de beneficiários do Bolsa Família e estudantes universitários de baixa renda.
A leitura dessas três pesquisas é reveladora o bastante para que o presidente Michel Temer aproveite uma "janela de oportunidade" que estará aberta nos próximos dias. Três eventos - dois políticos e um econômico - conspiram a seu favor.
Estão marcados para quarta-feira o depoimento da presidente afastada Dilma Rousseff na Comissão do Impeachment no Senado. O depoimento da presidente, que pode ser representada por seu advogado, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, estreia novo capítulo do processo de impedimento de Dilma por crime de responsabilidade. O depoimento estava previsto originalmente para 20 de junho, mas o número de testemunhas de defesa levou a um atraso no cronograma. Agora, o julgamento definitivo do processo no Senado é estimado para depois da Olimpíada, no fim de agosto.
Também na quarta-feira, a Comissão de Cidadania e Justiça da Câmara, vai discutir o recurso do presidente afastado, Eduardo Cunha, contra a decisão do Conselho de Ética que recomendou a perda do seu mandato.
O terceiro evento que pode colaborar para imagem mais favorável do governo é o anúncio da inflação de junho, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na sexta. A variação do IPCA no mês de desacelerar e, no cálculo em 12 meses, deve cair ao patamar de 8%. Neste ano, esse indicador já caiu do patamar de 10% para 9%. Economistas estimam que a variação será de 8,9%, a menor desde junho do ano passado, quando o indicador subiu 8,89%.
Esses três eventos locais - somados às atas das reuniões de política monetária do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) e Banco Central Europeu (BCE) - marcarão a semana. O saldo dessas informações pode vir a reforçar a melhora já observada em índices de confiança do setor privado e de consumidores calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Cabe na banda positiva da agenda, a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) de quatro novos diretores indicados pelo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. São eles: Carlos Viana (Política Econômica), Tiago Berriel (Assuntos Internacionais), Reinaldo Le Grazie (Política Monetária) e Isaac Ferreira (Relacionamento Institucional e Cidadania). Também flerta com essa agenda o anúncio da meta fiscal para 2017 que deverá ser deficitária em cerca de R$ 100 bilhões. Nada como uma nova meta para interromper o debate sobre o déficit primário deste ano, de R$ 170 bilhões.
Forças contrárias podem surgir, porém, da pauta do Congresso, a depender da inclinação dos parlamentares. Poderá ser votado regime de urgência para o projeto que alonga por 20 anos o prazo de pagamento das dívidas dos Estados com a União.
Serão instaladas algumas comissões mistas. Uma delas é sobre a medida provisória que extingue cargos comissionados no Executivo. Outra, tratará da medida que autoriza a liquidação e a renegociação de dívidas do crédito rural. Uma terceira comissão avaliará o apoio financeiro pela União ao Estado do Rio para auxiliar nas despesas com Segurança Pública durante a Olimpíada.
Mais uma comissão mista tratará da MP que fixa no máximo em R$ 3,5 bilhões repasse da União à Eletrobras e estatais elétricas da região norte para custear despesas com combustíveis e retira da Eletrobrás a função de administrar fundos que subsidiam tarifas de energia. O projeto do ex-senador e ministro das Relações Exteriores, José Serra, que retira da Petrobras a obrigatoriedade de participar da extração no pré-sal poderá ser votado em Plenário.
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