- Folha de S. Paulo
A interinidade, como já disse Michel Temer, tem sido uma guerra. Lava Jato, recuos, demissões de ministros. Mas a área econômica compensava a tudo e a todos.
Pois bem, na semana passada, de repente o governo Temer notou que até seu grande trunfo para se tornar definitivo começava a sofrer desgaste de forma bem prematura.
Aqui e ali surgiram críticas, até de aliados, à falta de coerência entre discurso e prática na área fiscal. De um lado, defende um teto para os gastos públicos. Do outro, apoia aumento de servidores, reajusta o Bolsa Família, dá verba para a educação e moratória aos Estados.
Em reação de contenção de danos, o governo saiu a campo com discurso afinado. O reajuste dos servidores foi abaixo da inflação, havia prazo fatal para renegociar as dívidas estaduais e o Bolsa Família estava dois anos sem aumento.
O fato é que Temer sinalizou um início austero e, para acomodar pressões e conquistar apoios, passou a ser generoso. Se fez uma proposta ousada de teto para as despesas públicas, fixou um rombo altíssimo para o Orçamento de 2016 a fim de absorver mais gastos.
É o preço da interinidade. Se não for bem calculado, pode jogar por terra seu principal ativo: a estabilidade econômica, com garantia de retomada do crescimento.
Por enquanto, as críticas não contaminaram o comportamento dos mercados. Ainda prevalece a torcida entre agentes econômicos para que Michel Temer dê certo.
E falam mais alto suas escolhas para a equipe econômica. Fossem outros os nomes na Fazenda e Banco Central, o mercado já estaria chiando. Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn têm crédito para gastar.
Dizem que, passada a interinidade, o governo do peemedebista será outro e cederá menos às pressões. Poderia dar os primeiros sinais desde já fixando um rombo para 2017 bem menor do que os R$ 170 bilhões deste ano. A conferir.
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