Por Assis Moreira e Daniel Rittner | Valor Econômico
DAVOS (Suíça) - A confiança dos executivos brasileiros na melhora de seus negócios ao longo dos próximos 12 meses mais do que dobrou em comparação com o início do ano passado. Esse salto no otimismo, sempre tomando o cuidado de lembrar que a medição anterior havia sido feita em pleno auge da crise política, foi qualificado como "impressionante" na 20ª pesquisa anual da consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC).
Divulgada tradicionalmente na véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, como uma espécie de termômetro do humor da elite global, a pesquisa coloca o Brasil como vice-campeão em confiança. Para 57% dos executivos do país ouvidos no levantamento, a perspectiva é de aumento das receitas em suas empresas ao longo de 2017. Há um ano, eram apenas 24% dos CEOs.
Se é certo que muitas companhias estão com a demanda baixa, tornando menos desafiador o cenário de aumento dos negócios, a pesquisa reforça a percepção de que o fundo do poço realmente pode ter ficado para trás.
Só os executivos da Índia esbanjam mais confiança no futuro imediato: 71% veem crescimento das receitas nos próximos 12 meses. A média global é 38% - três pontos percentuais acima do número verificado no ano passado. Foram realizadas 1.379 entrevistas com CEOs de 79 países.
Apesar do ânimo entre os próprios brasileiros, a visão dos estrangeiros deixa qualquer entusiasmo de lado e mantém certa prudência. Em um sinal claro de importância do mercado local, o Brasil foi apontado por 7% dos executivos como um dos três países mais relevantes para o crescimento de suas respectivas multinacionais nos próximos 12 meses.
Isso está longe de representar perda de interesse, mas o país está mais distante do terceiro lugar na lista de preferências dos investidores antes da crise. Em 2014, o Brasil perdia para EUA e China como prioridade para novos negócios. Agora está em 7º lugar, atrás da Alemanha, Reino Unido, Japão e Índia. De modo geral, o grupo dos emergentes tornou-se menos popular. Rússia e Argentina, por exemplo, saíram da lista dos dez principais "queridinhos" de que faziam parte no início da década.
Apesar do terremoto político causado pela eleição de Donald Trump nos EUA e pela rejeição dos britânicos à União Europeia, o humor dos CEOs melhorou discretamente de um ano para cá. Passou de 27% para 29% a quantidade de executivos confiantes em uma aceleração do crescimento global.
"Apesar de um 2016 tumultuado, a confiança está se recuperando, mesmo que lentamente e longe dos níveis que observávamos em 2007", disse o presidente mundial da PwC, Bob Moritz, referindo-se ao ano que antecedeu a quebra do banco americano Lehman Brothers - considerada um balizador do agravamento da crise.
No ambiente ultraliberal de Davos, algumas queixas dos executivos que surgem como "grandes preocupações" para o futuro de seus negócios até soam previsíveis, como o excesso de regulação - lamentado por 80% dos CEOs. Esse ponto também aparece entre as principais críticas dos executivos brasileiros, junto com a alta carga tributária e a infraestrutura inadequada logo em seguida.
Nesta edição, o relatório anual da PwC tem um apêndice sobre as transformações tecnológicas e discute que uma era de "desglobalização" começa lentamente a tomar forma, com aumento do protecionismo e questionamentos dos processos de integração. A consultoria fez entrevistas com mais de cinco mil pessoas, em 22 países, e constatou que apenas 38% veem impacto positivo da globalização nos movimentos de capital, bens e informação.
"O descontentamento público tem potencial para erodir a confiança necessária para o crescimento sustentável de longo prazo", afirmou Moritz. Para ele, isso reforça a exigência de um relacionamento "mais profundo" e de "mão dupla" dos executivos com consumidores, empregados, acionistas e o público em geral.
O impacto da automação também é lembrado. Duas décadas atrás, conforme lembra o relatório, havia 700 mil robôs industriais nas fábricas de todo o mundo. Hoje são 1,8 milhão; o número deve chegar a 2,6 milhões em 2019. Com o avanço da inteligência artificial, esse processo migra agora para o setor de serviços, enquanto a impressão 3D se intensifica até na manufatura de automóveis e aviões. Para 79% das pessoas entrevistadas, a tecnologia provocará redução de empregos nos próximos cinco anos.
Mas o temor popular não encontra amparo na expectativa imediata dos CEOs. Apenas 16% dos executivos têm planos de enxugar pessoal nos próximos 12 meses - só um quarto desses aponta a tecnologia como fator principal para as demissões. "Entender as raízes dessa percepção é um primeiro passo crítico na direção de comunicar os benefícios dos negócios à sociedade", completou o presidente da PwC
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