terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Agropecuária vai ajudar a melhorar números do PIB – Editorial | Valor Econômico

Vem do campo um dos mais sólidos motivos para se esperar que a economia deste ano seja melhor do que a dos dois últimos anos. A Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) divulgou nova estimativa para a safra 2016/17, que deverá atingir o recorde de 215,3 milhões de toneladas, favorecida por boas condições climáticas em todo o país. A previsão é ligeiramente superior à feita em dezembro e estima uma colheita 15,3% maior do que a de 2015/16, quando chuvas em excesso no Sul e a seca no Centro-Oeste e no Matopiba fizeram a produção ficar em 186,7 milhões de toneladas.

A nova previsão para a safra embala a expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária poderá crescer 5% no primeiro e no segundo trimestres e até 7% a 10% no ano, conforme estimativa da LCA (Valor 16/1). Será uma reviravolta em comparação com 2016, que acabou se saindo muito pior do que o esperado. Houve uma quebra de cerca de 10% da safra no ano passado, apesar do ligeiro aumento da área plantada, com queda da produtividade e da compra de fertilizantes. Ao divulgar o PIB do terceiro trimestre de 2016, no fim de novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou uma forte revisão das contas. A queda do PIB agropecuário no 1º trimestre que era calculada em 3,7%, acabou sendo de 8,3%; e a do 2º, de 3,1% passou a 6,1%. No 3º trimestre foi de 1,4%, acumulando recuo de 5,6% em quatro trimestres. Uma das maiores frustrações foi a produção de milho que despencou 25,5%, cinco vezes mais do que os 5% esperados pelo IBGE.

A dramática mudança favorável vai ajudar a amenizar os resultados ainda fracos esperados para a indústria e o varejo, levando o PIB para terreno mais positivo; e colaborar para a expansão das exportações. O impacto não é maior porque a agropecuária tem um peso de apenas 5% no PIB total, inferior até à construção civil, que contribui com 5,9%. Mas a recuperação da agropecuária tem efeito multiplicador em outros setores porque expande a compra de máquinas e equipamentos, fertilizantes, transportes e, com o aumento da renda no campo, amplia a demanda por bens de consumo.

Um dos sinais mais positivos é que o aumento da previsão de safra pela Conab deve-se quase que exclusivamente à expectativa de aumento da produtividade uma vez que a área de plantio cresceu apenas 1,3%, para 59,1 milhões de hectares. A produtividade média prevista para todos os grãos em 2016/17 é de 3.644 quilos por hectare, 13,9% mais que em 2015/16. A soja, carro-chefe da agricultura brasileira, deve registrar produção recorde de 103,8 milhões de toneladas, 1,4% acima do previsto em dezembro e 8,7% mais 2015/16. A produção do milho da safra de verão deve crescer 9,9% e a do milho da segunda safra, que será semeado depois da colheita da soja, deve saltar 37,7%. O milho safrinha e o feijão foram as culturas que mais sofreram com problemas climáticos em 2016, o primeiro, prejudicado pela seca no Centro-Oeste; e o segundo pelas chuvas em excesso no Sul.

Por trás do aumento da produtividade, o Valor (2/1) detectou o movimento de retomada dos investimentos dos produtores rurais, animados pelos preços melhores das commodities e pela perspectiva de câmbio favorável às exportações, além da maior disponibilidade de recursos para investimentos. Foram liberados R$ 13,9 bilhões entre 1º de julho até o fim de novembro, 5,3% mais que no ciclo anterior, segundo o Banco Central, representado principalmente pelo Moderfrota, linha destinada à aquisição de máquinas agrícolas.

A venda de tratores e colheitadeiras aumentou quase 20% entre julho e novembro em relação ao mesmo período de 2015, segundo a Anfavea. A associação prevê que a recuperação terá prosseguimento, principalmente no segmento de colheitadeiras. Apenas no último trimestre de 2016 em comparação com igual período de 2015, as vendas de máquinas agrícolas saltaram 50%, e as de colheitadeiras, 80%, segundo a LCA. Também cresceram as vendas de fertilizantes, que chegaram a 31,4 milhões de toneladas de janeiro a novembro, 11,4% mais que no mesmo período de 2015.

A concretização dessas previsões otimistas depende da confirmação das expectativas climáticas. A aceleração do corte de juros também deve beneficiar os negócios. Mas certamente será melhor se o ajuste fiscal avançar e houver progresso na superação dos gargalos de logística.

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