- O Estado de S. Paulo
• GSI defende ministro da Justiça, plano de segurança e controle de fronteiras
Depois de Lula e Dilma acabarem com as câmeras de segurança no Planalto em 2009, o governo dela extinguiu em 2015 o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão de inteligência que assessora os presidentes da República nas diferentes áreas. Lula e Dilma temiam revelar quem circulava pelo poder? Tinham algo a esconder? E a extinção do GSI, com o esvaziamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi puro desdém ou confusão entre inteligência e espionagem?
Conforme antecipou o Estado, Michel Temer restaurou logo ao assumir o GSI e nomeou para o cargo o general da reserva Sérgio Etchegoyen, quadro de elite do Exército. Além de encontrar a Abin com um terço da equipe, ele descobriu que não tem como responder a pedidos judiciais ou legislativos sobre a movimentação de pessoas no Planalto. Sabe quem entrou pela portaria principal, mas não se o empreiteiro tal, o lobista qual ou quem quer que seja passou em qual gabinete, em que dia, por quanto tempo.
Qualquer órgão público, prédio de apartamentos, shopping ou loja tem câmeras de segurança, fundamentais para desvendar dezenas, talvez centenas de crimes, como o recente assassinato do embaixador da Grécia. Mas justamente o prédio mais importante do País não tem câmeras há oito anos. Um espanto!
O general disse ontem à coluna que “o leigo confunde inteligência com atividades românticas de 007 ou de espionagem grosseira, mas não é nada disso”. Os agentes são altamente capacitados, em geral trabalham em cima de informações abertas e vêm alertando antes dos massacres de Manaus e Boa Vista para a guerra entre as facções. O PCC mantém “comando nacional único”, o Comando Vermelho “abre franquias” nos Estados e a Família do Norte reage assim: “Neste terreiro já tem galo, quem manda aqui ‘soy yo’”.
Etchegoyen defende o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o Plano Nacional de Segurança e a destinação de recursos do governo Temer para o Fundo Penitenciário (Funpen): nas despesas pagas, foram R$ 51,2 milhões em 2014, R$ 45,8 milhões em 2015 e R$ 1,17 bilhão em 2016. Por isso, quando ex-ministros petistas assinam manifesto contra Moraes, conseguem o oposto: “Pregaram ele na cadeira”.
Para o chefe do GSI, o plano usa a Olimpíada como modelo e vem sendo construído desde a posse, quando José Serra (Itamaraty) começou a discutir as fronteiras com os países vizinhos. “O contrabando de drogas é o que garante mercado e alimenta as facções criminosas. Não adianta agir só nas penitenciárias”, diz o general, destacando a “Rota do Solimões”, que cruza o Brasil de oeste a este e escoa a droga para países ricos. Por isso, o Brasil está enviando adidos de inteligência para vizinhos ou receptores, como a França. Poliana Torres de Medeiros assumirá o posto em Paris e o próprio Etchegoyen irá ao país nesta semana para contatos bilaterais e uma reunião da União Europeia sobre segurança cibernética.
A segurança, o tráfico e as penitenciárias estão fora de controle? Estão, mas, convenhamos, não dá para culpar o atual presidente, o atual governo, o atual ministro da Justiça. Eles apanham muito, o tempo todo, mas fazem o que podem. O que não podem é fazer milagres.
Entre amigos. O ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, que foi ao Jaburu no domingo, é amigo de Temer há 40 anos, foi seu assistente na PUC-SP nos anos 1980, prefaciou seu último livro e o define como “equilibrado, sereno, sensato, lúcido, bom professor e experimentadíssimo na política”. Ayres Britto considera uma “convergência positiva” ter três constitucionalistas no primeiro escalão da República: Temer, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes. “A saída para a crise é a Constituição”, diz.
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