- Valor Econômico
• Desafio é evitar "ajuste de contas" em congresso
Lula acenou para a direção do PT com a possibilidade de aceitar a presidência do partido por um período de dois anos. Não é o que o ex-presidente quer, mas ele está sendo empurrado a isso. Não há outra opção, no momento, capaz de unir as diversas facções e tocar adiante o processo de recuperação do PT, uma legenda devastada pelas denúncias de corrupção, o impeachment de Dilma Rousseff e o massacre eleitoral sofrido em 2016.
Se dependesse de Lula, o nome seria o do ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex-presidente da CUT Luiz Marinho, que também não quer, por acreditar que vai virar um alvo exposto. Outras alternativas faladas, como o senador Humberto Costa (PE), o ex-ministro Jaques Wagner (BA) e o senador Lindbergh Farias (RJ), têm restrições ora desta ou daquela corrente, ora do próprio Lula.
O ex-presidente prometeu dar uma resposta antes da realização do congresso partidário marcado para os dias 7, 8 e 9 de abril, mas que provavelmente será adiado para maio, por uma questão de organização, mas que daria mais tempo para Lula pensar ou se achar um nome que possa ser aceito pela maioria.
O congresso tem pauta extensa. A intenção dos dirigentes petistas era focar nas condições políticas de 2017 e 2018, mas pode se transformar num ajuste de contas entre as tendências. O ex-ministro Marco Aurélio Garcia já advertiu que o congresso não pode se transformar num tribunal para apontar e execrar culpados pelo fracasso do PT, marcado não só pela perda do governo, mas sobretudo pelo desastre eleitoral de 2016, nas disputas municipais. Uma das críticas deixa Lula particularmente agastado - a de que seu governo foi de "conciliação de classes". Ele costuma responder com um palavrão.
O PT, evidentemente, não tem como calar sobre as denúncias de corrupção. O mais provável é que sejam criados mecanismos de prevenção e que estabeleçam quem e o quê fazer diante de situações concretas. Na Lava-Jato, a direção do partido deu respostas diferentes e a situações aparentemente iguais, o que tem simbolismo. O PT, por exemplo, emitiu nota de solidariedade a João Vaccari Neto, um de seus ex-tesoureiros preso em Curitiba (PR), mas não fez o mesmo em relação ao ex-ministro José Dirceu, também preso no Paraná, uma das legendas do partido. Mas há propostas ainda mais radicais em discussão na preparação do Congresso.
Uma delas, assinada por Valter Pomar, prevê a criação de uma comissão especial de investigação para apurar denúncias de enriquecimento pessoal de filiados envolvidos em casos de corrupção. Uma proposta que deixa enfurecida a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a maior do partido mas já não majoritária, quando considerada isoladamente. Não é por acaso que há 20 anos o tesoureiro do partido é integrante da CNB ou de suas denominações anteriores.
Um abacaxi que só Lula pode descascar, na opinião de dirigentes do PT. O difícil é a resposta do ex-presidente ser positiva. Ser puder, ele escapa. É fato que Lula é o único nome hoje capaz de conter as tensões dentro do PT, ainda assim tem gente que deixará o partido mesmo que seja ele o futuro presidente da legenda. Lula também é considerado ruim de organização, mas bom de agitação. No seu período de presidente do PT quem tratava da organização era José Dirceu - e Severino Xique-Xique nos tempos do sindicato.
Lula e seus amigos também consideram que atrairiam ainda mais a "ira" sobre ele e o PT, se for presidir o partido. Quem defende seu nome no comando argumenta que Lula já responde a cinco processos e não deixará de ser alvo da Operação Lava-Jato. Na presidência do PT, Lula poderia ter um secretário-executivo para tocar o dia a dia do partido, enquanto ele se dedicaria à "agitação", que é o que mais sabe fazer, até 2018, quando decidirá se é candidato a presidente da República, algo a ser determinado pelas circunstâncias da época. Se não puder ser candidato, vai dar as cartas na escolha do nome do PT ou a ser apoiado pelo PT. Numa ou noutra situação, organizaria a renovação do comando partidário. Sem nenhum esforço adicional.
Lula concordou em fazer o aceno para a CNB, depois de uma conversa em que se discutiu nome a nome de eventuais candidatos. Pessoas da convivência do ex-presidente dizem que é mais fácil se achar um candidato dentro do partido do que o ex-presidente concordar em assumir o posto. Há dúvida até sobre a conveniência pessoal de Lula ser candidato à Presidência da República em 2018, muito embora lidere as pesquisas para o Palácio do Planalto. O presidente do PT, Rui Falcão, queria lançar seu nome agora em fevereiro. Lula pediu para Rui não fazer nada.
A antecipação do lançamento do nome de Lula, de qualquer forma, está entre as prioridades de Rui Falcão, que abriu mão de um mandato até novembro para o PT enfrentar o mais rápido possível o desafio da reconstrução. O ex-presidente pode ser lançado no congresso de abril ou maio. Há um trabalho para que os militantes e os movimentos sociais (CUT, MST e afins) deem a partida na candidatura, de modo a criar o "clima" para o lançamento na convenção.
Os integrantes do MST já circulam com bonés com a inscrição "Eu sou Lula", mas o mote preferido do PT é o "Volta, Lula", o mesmo empunhado pela senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), quando ainda integrava as fileiras do PT e havia dúvida em setores do partido sobre a conveniência da indicação da ex-presidente Dilma Rousseff para concorrer a um novo mandato.
Pesquisa encomendada pelo PT registrou uma rejeição de 42% à sigla entre os paulistanos, índice que chegou a 54% durante a campanha eleitoral passada, quando o partido perdeu a Prefeitura de São Paulo. A mesma pesquisa indica que o PT é o partido preferido de 13" dos eleitores da capital; o PSDB está em segundo, com 7%. Em todo o país, segundo pesquisa Vox Populi, o PT é o preferido de 15% dos eleitores. Há margem, portanto, para a recuperação, para qual as decisões do congresso devem ser decisivas.
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