-Folha de S. Paulo
A dívida das famílias cai sem parar desde setembro de 2015. O gasto mensal com o pagamento das dívidas sobe, no entanto. Como a ressaca nacional com dívidas e crédito é tida como um dos motivos importantes e especiais desta crise, é fácil perceber que a coisa anda mal parada.
Os dados são do Banco Central, de novembro, os mais recentes. Nesta quinta-feira, saíram também os números a respeito de crédito bancário de dezembro: ainda afunda como um barco de ferro velho (mais sobre isso adiante).
Se o crédito encolhe, se a taxa de endividamento das famílias diminui e o peso das prestações continua a subir, o suspeito óbvio do problema são as taxas de juros indecentes, bidu.
Em 2014, o comprometimento da renda das famílias com a dívida andou em torno de 22%. Subiu um tanto e voltara a 22% em novembro. O endividamento total (como parcela da renda dos últimos 12 meses) caiu de cerca de 45,7% para os 42,4% de novembro. Qual o problema?
O total do serviço da dívida (pagamentos de juros e amortização) não cai porque o peso dos juros subiu de 41% na média de 2014 para os 48% de novembro passado.
As taxas básicas de juros, no mercado de dinheiro, começaram a cair de modo relevante desde o final de dezembro. Não haveria como tal baixa ter chegado às taxas para os tomadores de empréstimos, menos ainda para as pessoas físicas.
Na verdade, a maior parte das taxas de juros para pessoas físicas ainda subia em dezembro (em relação a dezembro de 2015). Houve apenas uma queda muito discreta nos juros de financiamento de veículos (26% ao ano para 25,7% ao ano, na média), entre as categorias mais relevantes de empréstimos. As taxas subiram no financiamento imobiliário e mesmo no seguro consignado.
Nota de passagem: é preciso temperar essas contas de endividamento das famílias com uns grãos de sal e pimenta, pois os dados de renda misturam de salários a rendimento de juros, passando por benefícios sociais.
Não dá para saber com precisão o que se passa com os assalariados.
No entanto, a tendência é clara: o peso dos juros desfaz o esforço das famílias de se desfazer de suas dívidas.
Ruim com crédito, pior sem ele, porém. O total de dinheiro emprestado em relação ao tamanho da economia (estoque de crédito em relação ao PIB) baixou a 49,3% em dezembro, no nível antes visto apenas em abril de 2013.
Pessoas jurídicas responderam pelo grosso da redução do estoque de crédito, uns 90% do total (embora o estoque de crédito seja praticamente rachado meio a meio entre pessoas físicas e jurídicas).
Em valor, o total de dinheiro emprestado caiu 9,2% no ano passado (sobre 2015, já considerada a inflação).
Neste ano, pelo menos a previsão dos bancões maiores é de crescimento zero do estoque de crédito, se tanto.
O total de dinheiro novo emprestado cai também ainda de modo alarmante. No trimestre final de 2016, a baixa foi de 13,4% ante o trimestre final de 2015 (em setembro, era um pouco pior: baixa de 16,4%). Em suma, as concessões de empréstimos caem ainda em ritmo de depressão. Mas não as taxas de juros.
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