- Valor Econômico
• Se inflação cair abaixo de 4,5%, juro pode descer para 9%
As mais recentes informações sobre a economia trouxeram otimismo ao governo de Michel Temer. Forma-se, tanto na área econômica quanto no Palácio do Planalto, a convicção de que existe, de fato, a possibilidade de a inflação este ano ficar abaixo da meta de 4,5%. E a taxa de juros básica da economia, a Selic, poderá cair para um dígito também em 2017. Talvez no início do quarto trimestre a Selic já esteja em 9,25% ao ano, arriscou um ministro.
Por apenas três vezes desde que a meta de inflação foi fixada em 4,5%, em 2005, a variação do IPCA ficou abaixo desse objetivo. Isso ocorreu 2006 (inflação de 3,14%), 2007 (4,46%) e em 2009 (de 4,31%).
As expectativas, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central, ainda mostram uma projeção mediana de 4,71% de inflação para 2017. Mas a mediana do Top 5 (coleção dos analistas e consultores que mais acertam a pesquisa), já indica que o IPCA deste ano poderá ficar em 4,45%.
Foi também isso que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, ouviu de representantes dos mercados nos últimos dias, quando o banco Santander chegou a prever inflação de 3,9% para este ano, enquanto outras casas financeiras estimaram o índice de preços de até 4,9%.
Para o governo o país está, finalmente, caminhando em direção à normalização da economia. "Até então, vivíamos uma situação bizarra. Não consta da experiência empírica e teórica uma economia em recessão de 3,5% por dois anos consecutivos, com 12 milhões de desempregados e uma taxa de inflação resistente em um patamar elevado", comentou um ministro da área econômica. Isso aconteceu por uma conjunção de causas vindas do governo anterior, de Dilma Rousseff, assim resumidas por essa autoridade: "preços desalinhados, desancoragem das expectativas de inflação e desconfiança crescente no governo".
O Banco Central, na avaliação tanto da área econômica quanto da área política do governo, "está fazendo uma política monetária adequada", comentou a autoridade. Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada, o Banco Central estimou a variação do IPCA de 4,4% no cenário de mercado (com os juros caindo para 10,25% no ano). No cenário de referência, com juros estáveis em 13,75%, antes do último corte que derrubou a Selic para 13% ao ano, nos cálculos do BC, a inflação do ano ronda 4%.
Essa mesma fonte assinalou que "o Copom está sendo pragmático, agindo de acordo com os dados, como deve ser".
As declarações do presidente do BC, de que o corte de 0,75 ponto percentual deve ser o padrão das próximas reuniões do Copom criam, no governo, a expectativa de juros de um dígito este ano.
O maior risco de o BC ter que rever a trajetória da Selic por um eventual repique inflacionário doméstico é político, segundo avaliação oficial, originário de algum desarranjo nas relações do Palácio do Planalto com o Congresso, por exemplo, decorrente das delações referentes à Operação Lava Jato.
Há pouca preocupação com efeitos externos, advindos da gestão do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a taxa de câmbio que se transforme em pressões sobre a inflação no país.
Com a inflação domada, o foco do governo se volta para o crescimento e, dele, para novas reformas microeconômicas.
Na reunião que teve esta semana com o presidente Temer e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, combinou que em dez dias divulgará um novo conjunto de medidas para melhorar o mercado de crédito, mediante concessão de garantias e alienação fiduciária, além de outras relativas à desburocratização. Para melhorar as garantias de crédito o governo pretende mexer na Lei de Falências. Uma das ideias é a de desvincular a concessão de garantias de máquinas, equipamentos ou imóveis de uma empresa em recuperação, das dívidas da companhia.
A mudança na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que pode vir a flutuar com base nas NTN-B do Tesouro Nacional, não é uma medida para já. O ministro da Fazenda não quer encarecer o crédito quando a economia ainda está em recessão. O mesmo se aplica à uma nova rodada de revisão das desonerações de impostos. Meirelles já avisou que não renovará o prazo das desonerações nas datas de vencimento das medidas. Mas há um leque de incentivos ou benefícios fiscais sem prazo para terminar, como as desonerações da folha de salários das empresas. Esses casos só serão avaliados quando a economia estiver em pleno crescimento.
"O Banco Central acertou na mosca", disse Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos à coluna.
"Eles conseguiram estabilizar as expectativas de inflação e estão, agora, em uma boa posição para cortar a taxa de juros".
O alívio, a sensação de melhora do ambiente econômico nos últimos dias, vem do "magnífico trabalho do BC", do aumento de preços das commodities e de alguma recuperação "natural" da atividade econômica, citou, acrescentando: "Os ingleses costumam dizer que até um gato morto quica".
Apesar de uma certa descompressão do ambiente econômico, a situação do país, porém, continua frágil. Arminio salienta, e o governo reconhece, que mesmo com todas as medidas aprovadas, da PEC do teto de gasto à reforma da previdência e trabalhista, a trajetória da dívida pública bruta é crescente e deve chegar a 90% do PIB antes de começar a declinar.
O país entra "vulnerável" nessa nova e estranha fase da política global, marcada pelo Brexit (saída da Inglaterra da União Europeia), Trump (que acabou de assumir e já tomou medidas para lá de controversas) e Xi Jinping (presidente da China que saiu em defesa do livre comércio enquanto Trump advoga o protecionismo).
Para fazer frente a essa fragilidade, Arminio sugere um superávit fiscal de 3% do PIB no lugar do déficit de 2,5% do PIB e uma reforma do lado das receitas, para complementar o ajuste da PEC do gasto. Fazer uma limpeza na renúncia de receitas seria um bom começo.
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