• Embora seja perniciosa para o mundo, a chegada de um presidente protecionista à Casa Branca permite ao bloco atuar sem as restrições ideológicas de antes
A visita de Estado do presidente da Argentina, Mauricio Macri, foi ofuscada, na quarta-feira, pelo anúncio de que Michel Temer indicara o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para a vaga aberta no Supremo pela morte de Teori Zavascki. A repercussão foi intensa, e assim a passagem de Macri quase não repercutiu. Porém, na perspectiva da diplomacia regional brasileira e sua política comercial, foi um fato com desdobramentos nada desprezíveis.
Macri assumir a Casa Rosada em dezembro de 2015, ao derrotar o candidato de Cristina Kirchner nas urnas; Temer substituir a presidente Dilma Rousseff, em maio, quando ela foi afastada pelo processo de impeachment, e definitivamente, em agosto, constituiu a chamada conjunção positiva dos astros.
A aliança do lulopetismo com o kirchnerismo — que levara para dentro do Mercosul o bolivarianismo chavista, Venezuela à frente — saía do poder, e, com isso, os dois pilares do Mercosul podiam começar a reformar o bloco, para abrir-se ao exterior, livrando-se do protecionismo autárquico da visão terceiro-mundista de Lula/Dilma e dos Kirchner.
Não resultaram medidas objetivas da visita de Macri. Mas foi citado em discursos o interesse na aproximação com a Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru), o México isoladamente, e a União Europeia.
Outra feliz coincidência, no aspecto comercial, foi Donald Trump assumir a Casa Branca e começar a cumprir as promessas protecionistas de campanha. É indiscutível que, para a economia global, trata-se de algo pernicioso. O protecionismo leva à guerra comercial e, em decorrência, à recessão. Contra os interesses dos próprios Estados Unidos. O fato, porém, de o novo presidente americano se confrontar com o Nafta (aliança com o México e Canadá), descartar qualquer acordo comercial com a União Europeia, Ásia/países do Pacífico, e alvejar as exportações da China abre espaço para múltiplas alianças comerciais. E permite acelerar as negociações com a UE.
Surge a oportunidade de o Mercosul romper o isolacionismo a que o lulopetismo, o kirchnerismo e o bolivarianismo impuserem ao grupo. Pode-se, inclusive, encontrar arranjos institucionais que permitam a cada membro do grupo liberdade de manobra no campo do comércio internacional.
Brasil e Argentina avançaram bastante na integração econômica, com destaque para a indústria automobilística. Sob uma direção mais arejada, cabe ao bloco buscar recuperar o tempo perdido na interconexão com linhas de produção globais, a fim de ter acesso a novas tecnologias, elevar a produtividade.
A era Trump não é animadora neste e outros aspectos. Mas Brasil e Argentina precisam agir na reforma do acordo comercial, sem esperar para saber o que acontecerá em Washington.
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