- Folha de S. Paulo
A produção da indústria na prática parou de cair. Está nas profundas do inferno. No abismo, não se sabe se vai ficar de joelhos, antes de caminhar e sair do buraco. Mas parou de rolar a ladeira.
Há motivos vários de cautela sobre o futuro da estabilização, que dirá da recuperação. A indústria se segura em um galho frágil. Quase parou de cair porque voltou a produzir mais ferro e/ou petróleo e porque exporta um tanto mais, caso, por exemplo, das montadoras de veículos.
Daí em diante, sabe-se lá. Exportações e melhoras extras na indústria extrativa são um tanto incertas. A venda de bens de consumo depende de taxas de juros, inflação e desemprego menos feroz e, tão cedo improvável, de que haverá crédito.
Mas tudo isso depende da política e do destino das "reformas". Goste-se ou não delas, se as "reformas" forem para o vinagre, a maionese desanda.
Isto posto, volte-se à notícia menos pior.
A indústria "quase" parou de cair, para ser mais preciso. No trimestre de novembro a janeiro, ainda encolheu 0,1%, ante o mesmo trimestre do ano passado. Mas, no trimestre anterior, encerrado em outubro, despencava ainda ao ritmo de 5,6%.
A indústria de transformação ("fábricas") ainda cai 1,3% no trimestre. Despiora, mas continua no vermelho. O resultado geral foi compensado pela indústria extrativa, que cresceu 7,9% no trimestre (ante o ano anterior). A indústria extrativa é, grosso modo, minério de ferro (56,5% do total) e petróleo e gás (35,5%).
A importância da exportação fica evidente no caso das montadoras de veículos. As vendas de carros nacionais ainda caíam 2,9% no trimestre encerrado em janeiro (ante o ano passado).
Mas contas com os dados da Anfavea mostram que as vendas da produção doméstica (carros nacionais vendidos aqui e exportados) aumentavam 8,6%. Melhora. As vendas da produção doméstica haviam caído sem parar de março de 2014 a novembro de 2016.
As exportações brasileiras de manufaturados voltaram a subir. Sim, é pouca coisa, mas estamos vivendo de migalhas, sem o que não daremos nem passinhos para sair do buraco.
No caso de bens de capital, para investimento em nova capacidade produtiva, a coisa está malparada ou ainda caindo pelas tabelas.
Em suma, as notícias são de "recuperação", como o governismo diz? Não. São apenas sinais mais seguros de estabilização. De que podemos ter chegado ao fundo do buraco e que, talvez, caminhemos aqui embaixo por algum tempo.
Há motivos melhores para acreditar que não vai haver frustração, como na segunda metade de 2016.
Como agora todo o mundo diz, as taxas de juros caem, apesar de os bancos ainda enfiarem a faca. A inflação cai muito (embora os reajustes salariais nominais também devam cair, de agora em diante). Haverá o micropacote de estímulo dos saques das contas inativas do FGTS.
É tudo muito frágil. Uma valorização extra do real pode matar exportações, assim como qualquer balançada na economia mundial, o que de resto afetaria as taxas de juros para empresas brasileiras. A despiora no consumo das famílias continua, mas longe do fundo do poço.
Por ora, é o que temos: alguns brotos verdes em uma fazenda queimada, ainda com vários focos de incêndio. Mas são brotos.
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