- O Globo
A indústria respirou. Foram longos 34 meses caindo em relação ao mesmo mês do ano anterior para ter em janeiro o primeiro dado positivo. A quedinha, quase nenhuma, em relação a dezembro, de 0,1%, surpreendeu os economistas que fazem projeção e que estimavam um número pior. Muita coisa afeta a indústria e ela permanecerá fraca, mas este pode ser um ano positivo.
Ela caiu tanto nos últimos três anos que a alta pequena que se espera para 2017, em torno de 1%, não fará muita diferença nos grandes números do desabamento. Ela está hoje 19% abaixo do melhor momento, em julho de 2013. A indústria, na verdade, vive uma década perdida: está apenas 3% acima de dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacional (veja no gráfico).
Os dados de ontem trouxeram algum alento, um pequeno respiro. O negativo de 0,1% não foi o que mais chamou a atenção. Mesmo nessa comparação com o mês anterior houve altas como 3,1% de bens semiduráveis e não duráveis, crescimento de 4% em derivados de petróleo e biocombustíveis e 5,5% no setor de bebidas. Farmacêutico e farmaquímicos saltaram 21%. Mas veículos tiveram queda de 10%, que não chegou a anular o resultado positivo de 18% que ficou acumulado do final do ano passado. É assim, a indústria fica oscilando: quando há um resultado positivo é porque teve queda forte demais antes, quando sobe, logo depois “devolve” parte em uma queda mais adiante. São fatores como reposição de estoques que justificam a alta.
Na comparação com janeiro de 2016, há inúmeras boas notícias e até a média móvel trimestral mostrou alta de 0,9%. Isso não salva a indústria nem a faz se levantar do tombo sofrido.
Esse é o período que ficará conhecido como a a grande recessão brasileira, tão autoprovocada quanto a do governo Collor, que derrubou em 4,3% o PIB em 1990 por aquele plano tresloucado de sequestrar os ativos financeiros das famílias e das empresas. Há crises que vêm de fora, mas essa e a do Collor foram feitas aqui mesmo por obra das loucuras dos governantes.
Nesta grande recessão, a maior atingida foi a indústria. Ela começou a cair antes e ficou em queda por mais tempo. Nada a protege contra recuos futuros. O que ficou provado é que não adiantaram os inúmeros benefícios dados a alguns setores. O país ficou mais endividado e com rombos maiores nas contas públicas porque a indústria foi ajudada com desconto de impostos e empréstimos a juros baixos, para os quais o Tesouro vendeu títulos no mercado. A ideia era que se o governo empurrasse o carro pegaria. Não funcionou porque não é assim que funciona.
O que dá certo é melhorar os fatores gerais de competitividade. Investir em logística, simplificar impostos, ter regulação previsível, reduzir os juros estruturais da economia. Há custos que pesam sobre todas as empresas, de todos os setores, e são travas ao crescimento.
Esses fatores que tiram a competitividade, o velho custo Brasil, ficaram ainda mais pesados com a abrupta queda de consumo das famílias, a recessão na qual o país foi jogado. Alguns segmentos haviam tido benefícios tão fortes que acabaram tendo antecipação de consumo, como caminhões. E isso tornou a queda ainda mais pronunciada.
Fora isso, a indústria encolhe no mundo inteiro e reduz sua participação no PIB. É preciso pensar em todos os fatores antes de sair por aí acreditando que há uma solução mágica, uma panaceia para fazer reviver os tempos áureos da indústria.
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