O desastre econômico de 2016 (-3,6%) e 2015 (-3,5%) entraram para a história pela combinação inédita de péssimos indicadores - da maior queda de investimentos desde 1995, à pior recessão desde 1929 até a única vez em que a renda per capita caiu em um biênio. Essas circunstâncias excepcionalmente ruins, criadas pela política econômica calamitosa do PT, em especial sob a gestão de Dilma Rousseff, ficaram para trás. Os números do Produto Interno Bruto divulgados ontem mostram duas entre várias coisas importantes. O fundo do poço da economia foi atingido no primeiro semestre de 2015. Depois, os indicadores de desempenho passaram a ser um pouco menos ruins a cada trimestre, por qualquer comparação, exceto uma: na margem, no último trimestre de 2016, houve a maior queda do ano, de 0,9%, e não a menor, como se esperava.
Pouca coisa foi alterada nos cenários dos economistas, que erram muito, após o carregamento estatístico negativo ter se revelado maior para 2017, de 1,1%. O cenário de uma crise profunda ficou para trás e a tentativa da economia de voltar à tona tem sido e continuará lenta. Uma legião de indicadores traz sinais de melhora que, se não são espetaculares, não existiram em geral até agora.
Nenhuma recuperação razoável ocorrerá sem uma reação do consumo, que compõe 64% do PIB pela ótica da demanda e que depende da renda e do emprego. Há indícios promissores:
• A indústria voltou a contratar em janeiro (17,5 mil) ante dispensa quase equivalente no mesmo mês de 2016;
• A quantidade líquida de eliminação de vagas caiu pela metade entre os dois janeiros, segundo o Caged;
• Os reajustes salariais em acordos coletivos subiram 0,4% (Salariômetro da Fipe) em janeiro. A proporção de acordos fechados abaixo do INPC declinou de 68% para 26% no mês;
• Os salários de admissão estão em alta nos últimos três meses, segundo o Caged, em relação ao mesmo período do ano anterior. Eles vinham caindo sem parar de novembro de 2014 até outubro do ano passado;
• Começou a liberação parcelada de R$ 43,6 bilhões do FGTS, o que equivale a quase a massa total de rendimento real recebida por ocupados no mês de janeiro. Se todo o dinheiro for sacado, corresponderá a quase um 14º salário. E se apenas 15% do dinheiro for para o consumo pode empurrar o PIB para frente em 0,3% e os gastos das famílias em 0,4%.
A indústria, massacrada durante a recessão, dá sinais de alguma vitalidade:
• O indicador de horas trabalhadas melhorou e se acelerou de forma importante no primeiro bimestre de 2017 (Bradesco);
• Teve em janeiro sua primeira alta na comparação com o mesmo mês do ano anterior, após 34 meses de recuo sucessivo;
• O índice de consumo aparente (FGV), que soma produção interna mais importações e dela subtrai exportações, teve altas em novembro e dezembro;
• O Indicador Antecedente Composto (FGV e Conference Board) subiu 2,8% em janeiro em relação a dezembro, com 7 de seus 8 componentes em alta;
• A produção na indústria automobilística subiu 6,5% em fevereiro e as vendas, 8,4%, com performance vigorosa na exportação.
Se dependesse da confiança dos agentes econômicos, a economia já teria se recuperado há um bom tempo. Eles continuam confiantes.
• Subiram o Índice de Confiança do Empresariado Industrial (CNI, fevereiro ante janeiro), o Índice de Confiança do Comércio (FGV, em janeiro, maior nível desde 2015), Índice Serasa de Atividade no Comércio (fevereiro) e caiu o Indicador de Incerteza (FGV, fevereiro ante janeiro).
Além disso, a agropecuária colherá safra recorde, enquanto que em 2016 teve nada menos que seu pior desempenho em 20 anos (-6,6%). O setor de serviços, com 73% do PIB pelo lado da oferta, andará em compasso com a evolução dos salários, emprego e atividade industrial. Se não sair do campo negativo, terá resultado menos ruim.
Não há nada que indique uma reação relevante dos investimentos, cuja derrocada se atenuou de 2015 para 2016, mas ainda se encontra em -10,2%. Entretanto, os juros estão em trajetória acentuada de queda e isso reduz o custo de capital.
A economia ensaiará uma retomada lenta, gradual e nada segura. Mas já foi pior.
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