Exposto, como se sabe, a altíssimos índices de desaprovação popular, o governo Michel Temer sustentou-se, até agora, graças a um sólido contingente de adeptos no Congresso. Pelo que se vem noticiando nestes dias, também nesse front parecem crescer as incertezas sobre sua situação.
Diante da acusação de crime de corrupção passiva, apresentada pela Procuradoria-Geral da República na esteira da gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, da JBS, a Câmara dos Deputados se apresta a tomar uma decisão de consequências graves e dificilmente reversíveis.
Seria arriscado lançar qualquer prognóstico a respeito de quantos parlamentares estarão dispostos a aceitar a denúncia —para seu prosseguimento são necessários, conforme a Constituição, os votos de 342 dos 513 membros da Casa.
Embora não haja sinal de que tamanha maioria esteja em formação, levantamento feito por esta Folha identificava, até esta quinta (6), apenas 64 nomes dispostos a declarar pleno apoio a Temer.
Mais do que nunca, a fidelidade ao governo depende das negociações em torno de cargos e verbas. Sendo a Câmara o que é, tampouco a opção contrária —que levaria seu presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a ocupar o Planalto— haverá de ser tomada exclusivamente por motivos de maior altitude.
A proximidade das eleições de 2018 leva, de todo modo, que a considerações puramente fisiológicas se some o cuidado com os movimentos da opinião pública.
Pesa, ainda, a preferência do empresariado, do qual partem vozes refratárias a novos solavancos políticos que ameacem a tênue recuperação da economia. No entanto a perspectiva de um governo desmoralizado, incapaz de conduzir uma agenda ambiciosa, tende a se tornar cada vez menos atraente.
Não por acaso, os discretos movimentos de Rodrigo Maia suscitam agora todo tipo de especulação. Chamam a atenção, em particular, suas relações com os tucanos, que debatem abertamente a conveniência de abandonar a coalizão situacionista.
De um ponto de vista jurídico, há um dilema de difícil solução. De um lado, seria excesso de boa vontade fazer vista grossa ao que já se revelou sobre Temer.
De outro, prosseguir na via processual exigiria o afastamento do presidente, mesmo sem prova cabal de culpa —coisa que, diferentemente do que ocorre com réus comuns, implicaria desde já uma punição quase impossível de reverter.
Explicita-se, assim, o caráter político da decisão a ser tomada pela Câmara. Esta se mostra hoje menos previsível do que o governo gostaria de fazer crer.
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