Janaína Figueiredo, O Globo
-BUENOS AIRES E BRASÍLIA- Também em uma clara mudança de tom, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em viagem à Argentina, afirmou que a denúncia contra o presidente Michel Temer “é grave” e “tem de ser respeitada”.
Ao responder sobre declarações dos advogados do presidente, que se referiram à acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como “uma peça de ficção”, o presidente da Câmara foi enfático ao afirmar que “o doutor Janot fez uma denúncia e ela tem de ser respeitada. Se a Câmara vai ou não autorizar o seu prosseguimento é outra questão”.
Maia, que chegou ontem à capital argentina para participar do Foro Parlamentar sobre Relações Internacionais e Diplomacia Parlamentar, assegurou que sua vontade é encerrar o assunto assim que sair da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
— Uma denúncia contra o presidente é grave, não significa que a Câmara vai autorizar, mas eu não diminuo a importância e gravidade da denúncia. Deveríamos, assim que a comissão terminar seu trabalho, continuar o trabalho no plenário da Câmara — afirmou Maia.
Durante uma entrevista com jornalistas brasileiros na residência do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Maia esclareceu que sua viagem estava marcada há dois meses e lembrou que falou sobre o assunto com Temer há cerca de dez dias. Na conversa, assegurou Maia, o presidente lhe informou que não iria à reunião do G20.
Ao falar sobre as declarações do presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati (CE), sobre sua eventual ascensão à Presidência, Rodrigo Maia agradeceu o elogio, mas disse que, na Câmara, “ajuda muito à estabilidade do Brasil” e é onde pretende ficar até o fim de 2018.
— Pessoalmente, claro que a gente fica feliz dele avaliar que a gente tem condição de ajudar o Brasil e acho que, na posição que estou, já ajudo muito o Brasil — afirmou Maia.
Maia disse confiar que Temer vencerá a votação e que uma das incógnitas do momento é saber qual será a posição de muitos deputados.
— A maioria dos deputados não tem se posicionado, é difícil fazer analise sobre o resultado, tanto da comissão como do plenário, apesar da probabilidade maior de o presidente ter pelo menos 172 deputados. Mas, como a maioria não se manifesta, precisa analisar por que não estão se manifestando. Os próximos dias serão decisivos — analisou Maia.
Maia embarcou numa comitiva de peso, com seis deputados que têm influência dentro dos seus partidos. Alguns dos parlamentares que viajaram com Maia já foram até presidentes de grandes siglas, como o deputado Benito Gama (PTB-BA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Também estavam os deputados Rogério Rosso (PSD-DF), Rubens Bueno (PPS-PR) e Heráclito Fortes (PSB-PI).
Sobre o relacionamento com Temer e as versões sobre suposto afastamento, Maia respondeu:
— Sei reconhecer os que me colocaram na posição que estou, o presidente Temer foi fundamental na minha segunda eleição. São coisas diferentes quando você tem uma agenda de reformas e quando você tem uma denúncia. Quando você tem uma agenda de reformas, e para isso fui eleito, foi isso o que prometi, eu lidero essa agenda. Quando vem a denúncia, meu papel é ser árbitro. Não é que me afaste, não cabe ao presidente da Câmara nesse caso específico fazer a defesa do presidente.
Para assessores próximos a Temer, o presidente da Câmara sempre se mostrou um “aliado fiel” do governo e nunca deu qualquer motivo para que essa desconfiança se concretizasse.
— Você já viu ele falando abertamente que quer assumir o lugar do presidente? É teoria da conspiração — disse um aliado próximo de Temer. (Colaboraram Letícia Fernandes e Cristiane Jungblut))
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