sexta-feira, 7 de julho de 2017

Admirável mundo novo | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Saiu no site do Estadão no dia 28 de junho: em 24 meses, os bancos brasileiros fecharam 1.208 agências. Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, foram 929.

Esse não é o resultado da pura maldade dos banqueiros, sempre empenhados em tornar seus lucros espetaculares. É o resultado de mudança de tecnologia e de função das agências bancárias. Nada menos que 57% das transações bancárias (transferências, pagamentos de carnês, saques) já não são feitas em agências. São feitas, por cartão de crédito, pelo celular e outros meios eletrônicos.

Essa transformação não está limitada ao setor bancário. Todo o setor produtivo vive enorme metamorfose. O emprego, tal como conhecido até agora, não está morrendo apenas no mercado financeiro. Está morrendo na indústria de transformação, onde a robotização, as máquinas de quarta geração, a tecnologia da informação e a impressão em três dimensões estão mudando tudo e vão mudar ainda mais.

Os taxistas, por exemplo, se queixam da concorrência feita pelo Uber e pelos novos aplicativos, como o Cabify, que oferecem corridas com desconto. Maior categoria de trabalhadores do Brasil, os comerciários vêm sendo substituídos por esquemas digitais e automáticos de venda – que dispensam lojas e vendedores – por meio de operações via internet (e-commerce). Caminhões e tratores começam a operar sem motoristas, por enquanto apenas na agricultura do Brasil. E os planejadores da indústria automobilística advertem que o futuro dos veículos autônomos está próximo. Trens e metrôs já operam sem condutores. O prefeito de São Paulo, João Doria, avisou que pretende eliminar os cobradores dos ônibus urbanos.

Nascimento e morte de profissões acontecem desde que o homem saiu das cavernas. Para não ir muito longe, viviam por aqui há alguns anos acendedores de lampião, limpadores de chaminés, guardas de trânsito, carregadores de malas nas estações ferroviárias e nos aeroportos. Em todas as cidades havia os guarda-livros, os fotógrafos lambe-lambe, alfaiates e as telefonistas que conectavam e desconectavam em mesas e painéis pessoas que precisavam se comunicar.

A novidade não está na substituição de funções, profissões e negócios. Está na velocidade vertiginosa em que acontece hoje. O WhatsApp matou o faturamento das operadoras de telefonia que o Skype já começara a matar nas chamadas de longa distância. Os carrinhos inteligentes vão eliminar até mesmo os caixas dos supermercados e das lojas de material de construção. O setor de serviços está sendo operado, cada vez mais, por autônomos e por gente que trabalha “por conta própria”, patrão de si mesmo.

O impacto sobre os sindicatos é enorme e, quase sempre, seus dirigentes brigam com o inimigo errado, como os taxistas brigam hoje. O sistema educacional parece paralisado e não se prepara para mudar de foco e de métodos de treinamento. Os sistemas de previdência social enfrentarão novas e inevitáveis quedas de arrecadação e, até mesmo onde estão sendo modernizadas, as leis trabalhistas tendem a ficar rapidamente desatualizadas.

Quem viver verá? Não, estamos vivendo agora, com enorme perplexidade, o admirável mundo novo ainda mais desconcertante do que o previsto por Aldous Huxley.

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