- Folha de S. Paulo
Rodrigo Maia ainda não é um candidato emergente à Presidência, dizem parlamentares próximos do presidente da Câmara. Michel Temer é que submerge, na verdade afunda.
Maia "joga parado", dizem esses deputados e um senador. Espera um fato consumado, quase uma aclamação, sem se comprometer. Porém, esses parlamentares não sabem dizer como será possível juntar 342 deputados para dizer "Fora, Temer" e afastá-lo do cargo.
Parlamentares outros dizem que a associação com Temer é contagiante feito a peste. Alguns dizem ter pesquisas sobre o efeito eleitoral da aliança com o presidente, que seria devastador, em especial no Nordeste. Note-se que é lá que Lula é mais popular; é a região que ainda mais sofre, de longe, com a recessão.
Não é apenas em Brasília ou na política em geral que Maia se tornou uma hipótese de poder, por exclusão.
Havia um consenso entre donos do dinheiro grosso a respeito da deposição de Temer: melhor não fazer marola. Trocar Temer por Maia seria seis por meia dúzia, com o inconveniente do tumulto. Inventar eleições antecipadas seria pior ainda.
O problema de Temer é que ele se tornou mais do que motivo de marola, mas de ressaca, de mar revolto contínuo. Ouve-se ali e aqui que talvez seja melhor acabar logo com essa agonia. Temer estaria paralisado para se dedicar a sua defesa, bidu. Vai ficar ainda mais acuado quando vierem novas denúncias da Procuradoria-Geral ou quando começar a vazar a delação pesada de Eduardo Cunha.
O estado moribundo de Temer não é, porém, opinião que tenha se espraiado, até porque muita gente na elite econômica não entende o que se passa em Brasília, porque a situação de Temer muda a cada dia e, desde a semana passada, para pior.
Trata-se aqui de representantes de parte dessa elite mais vocal, nas internas ou em público, que se ocupa um pouco mais de política ou, mais frequente, que deixa vazar suas impressões e humores para o universo político, para o PSDB em particular, embora se façam escutar também no DEM e no PMDB.
É gente pesada das finanças, de empresários com afinidades tucanas e com a Rede (sic) e mesmo de associações da indústria, várias ligadas ao PMDB, algumas das quais davam um raro apoio público a Temer ainda na semana passada.
João Doria, tucano prefeito de São Paulo, começou a estudar com será o desembarque. Considerados os seus modos em geral discretos e suaves, o senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, grita pelo desembarque, pede o apoio do PMDB e sugere um pacto geral, que inclua oposicionistas, para fazer uma transição.
Tasso deu, enfim, o primeiro passo que muitos parlamentares esperavam, escondidos na espreita, pois temiam ficar na chuva, se queimarem sozinhos, diz gente do Congresso.
Empresários preocupados seriamente com reformas não acreditam que a troca de regente da coalizão reformista possa salvar grande coisa da mudança na Previdência. Mas levantam a hipótese de que Maia no lugar de Temer pode ao menos estabilizar o ambiente político, evitar que um tumulto que dure meses possa continuar a abater demais a confiança de consumidores e provocar uma recaída. Quanto à confiança deles mesmos, dizem que o investimento mínimo projetado vai sofrer.
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