- O Estado de S.Paulo
Abaloes em série na política ameaçam alívio na economia
Está aberta a temporada de revisões das projeções para o desempenho da economia. Os bancos e consultorias já se anteciparam e, logo depois do anúncio do crescimento de 0,2% no PIB do segundo trimestre, elevaram de 0,5% para perto de 1% a projeção para o ano. Na pesquisa Focus, o 0,39% da semana anterior já foi trocado por 0,5%. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, entrou no clima e, na sexta-feira, pelas redes sociais, afirmou que a economia entrará em 2018 com ritmo de expansão próximo de 3%, um ponto porcentual acima da previsão oficial para o ano, e poderá ir além disso em 2019 – e, embora não tenha se referido especificamente ao número fechado de 2017, deu a senha de que em breve ele também deverá ser alterado. Nada de espetacular, obviamente, mas acima das projeções que circulavam dentro e fora do governo. A inflação em queda livre, atingindo 2,46% nos 12 meses encerrados em agosto, e o juro básico em queda firme, chegando a 8,25% ano – a tal política monetária “estimulativa”, nas palavras do Banco Central, no comunicado do último Copom – alavancaram a rodada de revisões.
Quem fixa seus olhos apenas nesse ponto e ignora o que se passa à volta, poderia até comemorar a saída da recessão. Afinal de contas, depois de dois anos de crise pesada, e com uma vontade generalizada de espantar o baixo astral, mesmo a retomada lenta como a atual é uma boa notícia. Ainda fraco para garantir a absorção de um contingente de 13,3 milhões de desempregados e tornar o caixa do governo menos dependente das receitas extraordinárias, num prazo razoável, o andamento da atividade econômica mostra-se capaz pelo menos de evitar a ampliação dos estragos nessas áreas. Outros indicadores, como a produção industrial, com destaque para o setor automobilístico, e o comércio de eletrodomésticos de menor valor, contribuem para o alívio.
Não faltam problemas, contudo, para ameaçar a consolidação desse quadro. E eles vêm principalmente do ambiente político. A montanha-russa descarrilada em que se transformou a política brasileira, nos últimos dias, aprofundou – e muito – a insegurança em relação ao futuro imediato. Foi uma sucessão de sustos, para dizer o mínimo: as flechadas de Rodrigo Janot, que, todos imaginavam, chegariam a Temer, voltaram-se para os delatores espertalhões da JBS, e para o próprio Janot, o depoimento pré-delação de Palocci atingiu em cheio Lula e seu projeto eleitoral e as malas com os R$ 51 milhões que levaram Geddel de volta à prisão ameaçam jogar luz no esquema do PMDB e, de novo, envolver o presidente. Sem contar as denúncias em série contra o que Janot batizou de “quadrilhão do PT” e “quadrilhão do PMDB”, enquanto ele limpa as gavetas para sair da procuradoria. Um ritmo frenético, que tira o fôlego dos observadores e alimenta a tese do “não vai sobrar ninguém”.
Quem, em sã consciência, arrisca-se a prever, desta vez na política, quando virá o fundo do poço, como será a volta à superfície e quem serão os sobreviventes a serem resgatados? Em outras palavras, quem se arrisca a prever qual será exatamente o trajeto até as eleições de 2018? Temer e sua equipe insistem que nada disso contamina a economia e, mais ainda, nada muda a política econômica. A saída da recessão é vista como principal cacife para tocar em frente a pauta econômica, até mesmo a reforma da Previdência, dada como morta e enterrada até poucos dias atrás – o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que recentemente havia alertado para o apoio insuficiente à aprovação da reforma, agora promete votação para outubro, ainda que os temores da base em relação ao efeito eleitoral das mudanças continuem de pé.
Para a equipe econômica, a palavra de ordem é pressa. Fazer o que dá o mais rápido possível, mesmo num governo perto do fim e com lideranças fustigadas por uma série de denúncias, incluindo o próprio presidente. O mais rápido possível quer dizer antes que venha um novo ataque. O argumento é que ajustes e reformas, especialmente da Previdência, interessam a todos os candidatos à sucessão de Temer, já que pavimentariam uma estrada menos pedregosa para o próximo presidente. Pressa, porém, no meio desse turbilhão, corre o risco de virar atropelo.
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