segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Encontro casual?

Na véspera de Joesley se entregar, Janot encontra advogado do empresário em um bar de Brasília

Carolina Brígido, Eliane Oliveira e Igor Mello | O Globo

Na véspera de Joesley se entregar, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se encontrou com o advogado do empresário em um bar. Um dia antes de Joesley Batista se entregar à Polícia Federal, em São Paulo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se encontrou com o advogado do empresário, Pierpaolo Bottini, em um bar em Brasília. No local, os dois dividiram uma mesa, como mostra foto obtida pelo site “O Antagonista”, na qual Janot aparece de óculos escuros, sentado à mesa com Bottini, diante de uma garrafa e um copo de cerveja. O encontro ocorreu um dia depois de o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter expedido o mandado de prisão contra Joesley e outro executivo do grupo J&F, Ricardo Saud.

Tanto Janot quanto Bottini confirmaram terem estado juntos no bar, mas sustentaram que o encontro foi casual. Em nota, o procurador-geral da República disse ser cliente do estabelecimento: “Acerca da nota publicada pelo site O Antagonista, a Procuradoria-Geral da República esclarece que o procurador-geral da República frequenta o local rotineiramente. Não foi tratado qualquer assunto de natureza profissional, apenas amenidades que a boa educação e cordialidade prezam entre duas pessoas que se conhecem por atuarem na área jurídica”.

Ao GLOBO, Pierpaolo Bottini afirmou que o encontrou foi “casual”, em um local público em Brasília, mas não quis revelar o endereço do bar. Segundo ele, os dois não conversaram sobre “temas jurídicos”. O advogado afirmou que o encontro não foi “marcado” nem “agendado” e que não falaria mais sobre o assunto, já que havia emitido nota sobre o episódio.

— Foi um encontro casual, não conversamos sobre temas jurídicos. Então, não vou mais fazer declarações — disse ao GLOBO.

O encontro teria acontecido na distribuidora de bebidas Lago Sul, próxima à casa de Janot.

A decisão do ministro Edson Fachin de prender os executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud foi tomada na sexta-feira à noite e mantida em sigilo. No sábado pela manhã, como já havia terminado o trabalho, o ministro estava tranquilo: foi visto passeando por uma quadra comercial em Brasília com a mulher, enquanto o Brasil esperava a decisão ser tomada, sem saber que isso já tinha sido feito.

MINISTROS ESTRANHAM ENCONTRO
O tempo passou e, como a ordem de prisão ainda não tinha sido cumprida pela Polícia Federal até o início da tarde de ontem, ministros do STF que sabiam da decisão passaram a estranhar. Na avaliação de uma fonte do STF, a história estava “nebulosa”, porque não é comum uma ordem de prisão da corte levar tanto tempo para ser cumprida. Especialmente quando o pedido de prisão feito por Janot dizia que o caso era urgente.

Causou ainda mais estranheza entre ministros do STF a notícia de que Janot se encontrou com Bottini, em um bar de Brasília no sábado. A avaliação é de que os dois estariam tratando das condições para os delatores se entregarem, embora o advogado tenha dito que o encontro foi casual e que não trataram de delação ou prisão.

Ministros do STF também consideram que o comportamento de Janot, fotografado no canto de um bar, atrás de engradados de cerveja, de óculos escuros, não foi conveniente.

Questionada, a assessoria do PGR informou que o “encontro não foi marcado”, mas não respondeu onde Janot e o advogado se encontraram, o horário e por quanto tempo conversaram.

FACHIN DISPENSOU USO DE ALGEMAS
No despacho em que acolheu o pedido de prisão temporária de Joesley e Ricardo Saud, o ministro Fachin determinou que o cumprimento dos mandados deveria ocorrer “com a maior discrição e com a menor ostensividade.”

Fachin acrescentou que a autoridade policial deveria “preservar a imagem dos presos, evitando qualquer exposição pública”, e que deveria “ser evitado o uso de algemas”.

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