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O mercado de capitais se mostrou alternativa viável de financiamento de longo prazo para as empresas neste ano, em um momento em que a tradicional fonte de recursos do BNDES minguou e os bancos comerciais reduziram as operações. De janeiro a setembro, as empresas levantaram R$ 176,3 bilhões com a venda de ações e títulos de renda fixa, 32% a mais do que no mesmo período de 2016, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Somando-se outubro, o volume chega a R$ 192 bilhões, com alta de 36%.
Vendidos no mercado doméstico e no exterior, os títulos de renda fixa garantiram R$ 160,8 bilhões ou 84% do total captado. Apesar do volume menor, com R$ 31,2 bilhões emitidos, as ações surpreenderam ao atingirem o triplo do registrado em 2016 e a maior marca desde 2010. Foram oito lançamentos iniciais de ações até agora, de grandes empresas como o Carrefour e a Azul, a outros não tão conhecidas, como a Biotoscana, Hermes Pardini e Movida; e 13 operações subsequentes.
A queda dos juros e a expectativa de recuperação da economia aumentaram a demanda por títulos privados, abrindo espaço para as emissões das empresas. A venda de debêntures para investidores institucionais saltou. Eles abocanharam 65,7% dos papéis emitidos neste ano em comparação com 19,8% em 2016, e diminuiu significativamente a parcela dos títulos que ficam com as instituições financeiras responsáveis pelas operações. As pessoas físicas também mostraram interesse, especialmente pelos papéis com isenção de Imposto de Renda (IR). As pessoas físicas ficaram com 38,2% das debêntures de infraestrutura emitidas neste ano, em comparação com os 25,4% de 2016; e com 86% dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) vendidos, muito acima dos 23,4% do ano passado.
A reação do mercado de capitais em um momento de mudança da atuação do BNDES reforçou a avaliação de que a política de crédito agressiva do banco, com juros subsidiados, tolhia outras alternativas de financiamento de longo prazo. A essa crítica sempre se somou outra, a de que a taxa subsidiada enfraquecia a política monetária e contribuía para manter os juros elevados.
Não por acaso, a virada do mercado de capitais começou em 2016, quando as dificuldades fiscais tornaram mais seletiva a oferta de crédito pelo BNDES, enquanto se anunciavam os estudos para a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que vai substituir a subsidiada TJLP a partir de janeiro e convergir para os juros praticados pelo mercado. Diagnóstico do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec) mostra que os recursos levantados pelas empresas no mercado de capitais superaram o total obtido junto ao BNDES em 2016, pela primeira vez em dez anos. Os desembolsos do banco caíram 35% no ano passado, para R$ 88,3 bilhões, metade dos R$ 178 bilhões obtidos no mercado de capitais.
A mudança também é visível no perfil de endividamento das empresas. Apesar do estoque da dívida corporativa ter caído cerca de 8% em 2016, para R$ 3,24 trilhões, a parcela representada por debêntures, recebíveis imobiliários e do agronegócio, entre outros papéis, cresceu 6%, para R$ 609,4 bilhões, de acordo com o Cemec. Com isso, o mercado de capitais doméstico alcançou uma fatia de 18,8% do saldo de financiamento corporativo no fim de 2016, acima dos 16,3% registrados em 2015. Na contramão, o estoque de empréstimos direcionados do BNDES cedeu 12,8% ao longo do ano passado, para R$ 552,3 bilhões, passando a corresponder a 17% do estoque total. Do lado dos bancos, o pé no freio causou uma baixa de 9,6% no saldo de empréstimos, para R$ 786 bilhões, equivalente a 24,2% do estoque de dívida corporativa.
O quadro se mantém neste ano, de acordo com os dados do Cemec até agosto, (Valor, 9/11), com as emissões domésticas de dívida privada acima do crédito do BNDES no saldo de financiamento das empresas. A reação do mercado de capitais é auspiciosa, mesmo que seja uma fonte de recursos acessível apenas às empresas de maior porte e ainda careça de mecanismos de acesso para as menores. A queda dos juros favorece a expansão do mercado. Desde 2010, as empresas levantaram no mercado de capitais mais de R$ 200 bilhões. Mas é preciso lembrar que a recuperação depende do progresso das reformas econômicas, e que as naturais indefinições em relação às eleições de 2018 podem ter impacto negativo no ânimo dos investidores.
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