Por Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA), Edison Lobão (MA), Roberto Requião (PR) e, agora, Eunício Oliveira (CE). A velha guarda do PMDB no Senado - à exceção, por enquanto, de Romero Jucá (RR), fiador no Congresso do governo de Michel Temer - já caminha firme para arranjos em seus Estados que lhes permitam dividir o palanque com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso este tenha condições de concorrer ao Palácio do Planalto em 2018.
A razão não é só a popularidade do petista, em especial no Norte e Nordeste. A indefinição do PSDB tem sido um favor decisivo, bem como uma enorme desconfiança, disseminada entre os caciques pemedebistas, dos reais planos do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que se lançou na semana passada candidato ao comando tucano.
Ouvidos pelo Valor, alguns dos cabeças do PMDB do Senado afirmaram sob reserva que, há tempos, desconfiam que Tasso tenta a presidência do PSDB para, na verdade, colocar-se como um possível candidato ao Palácio do Planalto.
Estes pemedebistas lembram que, quando da primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em junho contra Temer, identificaram movimentos de Tasso para se viabilizar numa eleição indireta. Tasso teria chegado a procurar o ex-presidente José Sarney para colocar a possibilidade, atestam.
Recentemente, um episódio ocorrido com o presidente do Senado corroborou o sinal de alerta entre os pemedebistas antigos. Segundo interlocutores, Eunício tentou fazer uma aliança para Tasso encabeçar uma chapa no Ceará, concorrendo ao governo e o presidente, à recondução no Senado. Uma operação com pouco risco, avaliava-se, pois mesmo se derrotado, Tasso voltaria ao Senado, onde tem mandato até 2023.
O tucano não topou e queria indicar um candidato desconhecido, o que "puxaria" a candidatura de Eunício para baixo. Foi a partir daí que Eunício procurou, pragmaticamente, se acertar com o adversário que o derrotou em 2014, o governador Camilo Santana (PT), para compor uma chapa para 2018.
Em 27 de outubro, Eunício telefonou para Lula para dar-lhe os parabéns pelo seu 72º aniversário. Além disso, Eunício aproveitou para dizer a Lula que irá apoiá-lo em 2018, conta o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Questionado, Eunício diz apenas que sempre teve uma relação correta com Santana e o ex-governador Cid Gomes (PDT) - e que seu problema, pessoal, é com o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), com quem já trocou ofensas públicas e têm dezenas de processos um contra o outro.
Por ora, o desenho político no Ceará é Santana candidato à reeleição, com Cid e Eunício candidatos a senadores. Além disso, o senador indicaria alguém para presidir a Assembleia Legislativa do Ceará em 2018. E, claro, a benção de Lula, de quem Eunício foi ministro das Comunicações. A apresentação pública da nova aliança já tem até data: Na sexta, Eunício deve participar de um evento do governo, por conta de emendas parlamentares apresentadas por ele e que levarão recursos ao Estado.
Um acerto que não precisará de tantos meandros é o da família Barbalho, no Pará, com o PT e Lula. "Minha relação com Lula não é boa, meu filho. É excelente", atesta o senador Jader Barbalho. O filho do senador, o ministro da Integração Hélder Barbalho, aparece como favorito na disputa pelo governo em 2018. O PSDB, do governador Simão Jatene, não tem um candidato natural à sua sucessão -ele está no segundo mandato.
Em 2014, PT e PMDB já estiveram juntos por Hélder, mas ele foi derrotado. Estimulado pela militância, o senador Paulo Rocha (PT) quer disputar o governo. Mas petistas ouvidos avaliam que "Lula cuidará disso". "Lula é candidato fortíssimo. Como a classe política em geral está sob suspeição, o eleitorado vai dizer 'todos não prestam, mas o Lula fez'. Vai ter o recall. Se concorrer, ninguém ganha do Lula", avalia Jader.
Os tucanos, para Jader, sairão enfraquecidos do atual embate interno. "Não tenho dúvida de que o PSDB vai rachar. Não consegue sobreviver. O grupo ligado ao governo não vai largar o Michel", afirma.
No plano local, Jader admite o favoritismo do seu grupo mas, ao estilo PMDB, não descarta mesmo uma composição que ponha em seu palanque ao mesmo tempo Lula e o PSDB. "Em política nada é descartado. Nunca diria nunca".
Já o PMDB, para o senador, seguirá pragmático, espalhando alianças regionais conforme a conveniência, mas sem candidatura ao Planalto. "Sempre fui PMDB, continuarei sendo. Mas não vejo quadro no PMDB em condições para concorrer a presidente".
Quanto ao PT, apesar da boa vontade de suas lideranças, o desafio é vencer a resistência da militância às alianças com os "golpistas". "Nossa base ainda está muito ferida ainda com o golpe", afirma Guimarães. "Alguns movimentos sociais não querem nem ouvir falar em aliança com o PMDB".
No impeachment de Dilma Rousseff, a bancada do PMDB tinha 18 senadores. Foram 13 votos a favor (Eunício e Lobão entre eles), uma abstenção (de Renan), dois ausentes (Jader e Eduardo Braga) e apenas dois contra a destituição - Requião e Kátia Abreu (TO). Mas na segunda votação daquela sessão, a que decidiu se Dilma teria ou não os direitos políticos suspensos, a equação se inverteu. Dez senadores pemedebistas votaram contra a inabilitação, seis a favor e dois se abstiveram. Dos 21 senadores titulares do PMDB, 14 concluirão mandato no próximo ano e precisam buscar a reeleição.
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