Por Andrea Jubé, Marcelo Ribeiro, Cristiane Bonfanti | Valor Econômico
BRASÍLIA - O pedido de demissão do ministro das Cidades, Bruno Araújo, do PSDB, precipitou o início da reforma ministerial do presidente Michel Temer para tentar viabilizar a reforma da Previdência Social. Ontem Temer agradece em nota "os bons serviços prestados" pelo tucano e adiantou que as mudanças no primeiro escalão estarão concluídas "até meados de dezembro".
Araújo antecipou-se à sua provável demissão, surpreendendo o presidente, que tem sido pressionado a entregar o Ministério das Cidades ao PP ou ao PMDB. O gesto se deu um dia após a senha do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), de que o partido sairia do governo "pela porta da frente".
Reeleito presidente do diretório do PSDB de Pernambuco, Araújo - que é deputado federal e voltará ao exercício do mandato, - deverá captar votos no Nordeste para a eleição do governador de Goiás, Marconi Perillo, à presidência do PSDB. Ontem Perillo divulgou nota apoiando a atitude de Araújo.
Por enquanto, seu gesto é isolado, e não deverá ser acompanhado pelos outros três ministros tucanos.
Em entrevista ao Valor, o ex-ministro disse que a falta de apoio dentro do PSDB foi determinante para que ele decidisse deixar a pasta e adiantou que voltará a Câmara para trabalhar pela unidade do partido e pela aprovação da reforma da Previdência.
"Quando assumi o cargo, eu tinha o apoio da bancada que eu representava e, com o passar do tempo, esse apoio foi desidratando", explicou.
Ele disse que atuará para que a legenda chegue organizada e unificada à convenção nacional do partido, marcada para 9 de dezembro. Na avaliação dele, é importante que os tucanos elejam um presidente que restabeleça a unidade para fortalecer a candidatura do partido à presidência da República em 2018.
Mesmo fora do governo, Araújo defende que o partido vote pela aprovação da reforma da Previdência. "É hora de o PSDB mostrar que tem compromisso com as reformas e enfrentar reformas que são importantes para tirar privilégios".
Por fim, Araújo afirmou que não se arrepende de ter ficado no governo após a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, quando ele chegou a sinalizar que pediria demissão. À época, Tasso e o senador Cássio Cunha Lima lhe sugeriram que ele ficasse na pasta e ele acatou, disse.
Antes de seu desligamento, Araújo protagonizou ao lado de Temer, em cerimônia no Planalto, a entrega ao primeiro grupo de beneficiários do cartão-reforma - programa que concede R$ 6 mil a fundo perdido para benfeitorias nos imóveis. Ele assegurou que Caruaru, sua base eleitoral, em Pernambuco, fosse a "cidade-piloto" do programa e entregou os cartões a famílias do município beneficiadas com os recursos. Levou sua aliada, a prefeita de Caruaru, Raquel Lira, e líderes comunitários para uma audiência com Michel Temer.
PP e PMDB disputam a sucessão no Ministério das Cidades. O PP argumenta que, entre os aliados, representa a bancada que votou mais unida pelo arquivamento das denúncias contra Temer na Câmara, enquanto o PSDB rachou no meio, e as demais siglas que compõem o Centrão - PR, PSD, PTB, - tiveram muitos dissidentes.
Um dos modelos da reforma prevê o retorno do PMDB ao Ministério da Saúde, pasta hoje com o PP, e que seria devolvida, em troca das Cidades. O Ministério das Cidades é cobiçado por causa do programa de distribuição de casas populares, Minha Casa, Minha Vida.
Os aliados pressionam, contudo, para que simultaneamente Temer lance uma campanha publicitária ressaltando pontos favoráveis da reforma previdenciária, para facilitar o voto favorável à matéria.
Outra reivindicação dos partidos do Centrão (PP, PR, PSD, PTB) é pelo afastamento do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB), para que o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, passe a acumular, também, a articulação política.
Temer está preocupado, ainda, em equacionar as insatisfações dos deputados e dos senadores. Ele tem sido advertido de que não basta recompor a base na Câmara, porque a reforma previdenciária tem de ser aprovada nas duas Casas. Nos últimos dias, ele se reuniu com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI) e nos próximos dias conversará com Valdemar Costa Neto, principal liderança do PR. Em sua cota pessoal, ele gostaria de manter dois ministros do PSDB: Antonio Imbassahy, que seria deslocado para outra pasta, e Aloysio Nunes, que seria mantido no Ministério das Relações Exteriores.
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