Presidente rejeita pedido do MP para afastar vice-presidentes, o BC alerta sobre efeitos da corrupção no banco, e assim surge mais um incêndio para o governo apagar
Não era de se esperar que o presidente Michel Temer, vice numa chapa com a petista Dilma, avalizada por Lula, mudasse da água para o vinho os costumes do fisiologismo, prática em que o partido dele, o MDB, é professor. Mas não se pensava que o presidente viesse a ser tão descuidado com métodos já condenados pela sociedade e esquadrinhados por organismos públicos de repressão aos crimes de colarinho branco. Isso não por convicção, mas por inteligência, e, no mínimo, pela precaução que se espera dos políticos experimentados.
Mas Temer aceitara manter aquela conversa nada republicana com o empresário Joesley Batista, nos porões do Jaburu, e ainda foi negligente, para dizer o mínimo, ao não seguir na Caixa Econômica a norma que adotou com relação à Petrobras — núcleo do bilionário escândalo do petrolão —, de substituir diretores da velha ordem por profissionais experimentados e de ficha limpa.
Mais uma vez teve de correr para apagar incêndio. Não foi por falta de aviso, porque o Ministério Público Federal pedira, em dezembro, o afastamento dos 12 vice-presidentes da instituição, ocupantes de cargos sabidamente loteados entre partidos da base (MDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PP e PSB). É a praxe.
A situação se degradou com o resultado de uma auditoria independente pelo escritório Pinheiro Neto, feita na CEF por ordem do Conselho de Administração da instituição e revelada pelo GLOBO na semana passada.
Do documento consta o próprio Temer, ainda vice-presidente da República, indicando nome para a superintendência de Ribeirão Preto, assunto tratado pelo já vice-presidente do banco Roberto Derziê de Sant’Anna. Um dos quatro afastados terça-feira.
Temer resistiu ao MP, mesmo sob a ameaça de vir a ser responsabilizado legalmente. Até que o próprio Banco Central entrou no circuito, para alertar que a Caixa estava assumindo “riscos anormais”. Como já havia assumido por pressões de Eduardo Cunha e Geddel Vieira, os dois encarcerados. Para Cunha, por sua vez, o MP propõe pena de mais de 380 anos de prisão pelo conjunto de sua obra descoberta apenas por uma das quatro operações que vasculharam a Caixa. A Sépsis, que trata de falcatruas no FI-FGTS, manipulado pelo ex-presidente da Câmara, deputado cassado, do MDB fluminense. Entende-se por que o governo precisa que o FGTS injete R$ 15 bilhões do banco, para adequá-lo a normas técnicas internacionais. Resultado de gestão temerária induzida pela corrupção.
Temer foi levado a afastar temporariamente quatro vice-presidentes, mas só por 15 dias. São eles, além de Derziê, José Henrique Marques da Cruz, Deusdina dos Reis Pereira e Antônio Carlos Ferreira). Ao mesmo tempo, o Conselho de Administração deve retirar o poder do presidente da República de nomear a diretoria do banco, para protegê-lo das óbvias pressões dos partidos em defesa dos apaniguados. Estes e outros.
A Caixa está junto com a Petrobras no ranking de estatais saqueadas por esquemas políticos de corrupção. O petrolão deve ser debitado ao lulopetismo. Já a conta pela CEF vai ficando com o MDB, o próprio presidente e seu grupo, de que fez parte Geddel Vieira. Mas há gente ainda circulando em Palácio.
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