- Folha de S. Paulo
O Brasil tem 35 partidos políticos. Contam-se nos dedos aqueles com razoável coerência histórica. Certamente o Partido Trabalhista Brasileiro não está entre eles.
Criado pela máquina ditatorial do Estado Novo em 1945, o PTB nasceu com o discurso de defesa do proletariado urbano, tendo exercido grande influência nas classes populares.
As septuagenárias CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e Justiça do Trabalho vêm desse período, ambas sob a batuta de Getúlio Vargas.
Extinto pela ditadura militar e renascido nos anos 1980, o PTB perdeu a linha de frente da bandeira trabalhista para o PDT de Leonel Brizola e para o PT, entre outras legendas.
Com a ascensão de Michel Temer, ganhou o Ministério do Trabalho e apoiou a reforma da legislação, amplamente benéfica ao empresariado.
Nesta quarta-feira (17), soube-se que seu atual presidente, Roberto Jefferson, prega algo mais ousado, a extinção da Justiça trabalhista.
Em entrevista a Gustavo Uribe e Daniel Carvalho, o ex-aliado de Collor pinta as varas do Trabalho como a real ditadura do proletariado: calvário das empresas, que ali não teriam voz nem chance de vitória.
Indica considerar bebês chorões milhões de trabalhadores que recorreram à "babá de luxo" nos últimos anos. Uma ironia e tanto para a sigla que, ao menos no nome, carrega o legado do "pai dos pobres". Ou o entulho getulista, na visão de muitos.
Reportagem da Folha mostrou que a Justiça do Trabalho é cara e lenta, mas não "pró-trabalhador" —apenas 2% das ações são julgadas procedentes na íntegra. A maior parte é resolvida por acordo entre as partes.
Sabe-se, porém, que a revolta de Jefferson deriva da condenação da filha por não pagar direitos trabalhistas a um ex-motorista, inconveniente que levou a Justiça Federal a barrar por ora sua efetivação como ministra do Trabalho. Em resumo, nada a ver com entulho, legado ou história —apenas mais um partido em busca de seu espaço ao sol governista.
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