PT aceitou uma derrota simbólica de relevância, permitindo que Haddad apagasse de sua propaganda o rosto de Lula
No jargão dos institutos de pesquisa, quando os gráficos mostram um desenho que distancia dois competidores de maneira clara, diz-se que “abriu a boca do jacaré”. E quando ela abre, é difícil ser fechada. O fato é que uma vitória de Haddad seria mudar em 15 dias tudo o que o eleitorado brasileiro fez no último domingo, quando varreu figuras tradicionais da política brasileira, apartidariamente, mas atingindo, inclusive, políticos do PT ou seus aliados mais explícitos, com uma ou outra exceção devida a peculiaridades da política local.
A situação é tão grave que o PT aceitou uma derrota simbólica de relevância, permitindo que Haddad apagasse de sua propaganda o rosto de Lula e, mais que isso, trocasse a cor vermelha da propaganda, pelo verde-amarelo típico da campanha de Bolsonaro.
É interessante notar que desde 2013, quando das manifestações populares difusas contra “tudo o que está aí”, e depois nas passeatas a favor do impeachment de Dilma, os manifestantes que usavam o verde-amarelo, geralmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, eram ridiculamente acusados pelos petistas de serem “coxinhas” coniventes com a corrupção da CBF.
Agora, os cartazes do petismo que quer se esconder mostram moças e rapazes com a camisa da seleção, com a mão no peito em sinal de respeito, e olhando para o horizonte, dignos do realismo socialista do tempo de Stálin na União Soviética. E o desaparecimento da figura de Lula dos cartazes lembra muito o hábito stanilista de apagar das fotos os que caíam em desgraça no regime comunista, muito antes de aparecer o Photoshop.
É claro que o PT não chegou a esse ponto, e Lula continua sendo “o grande líder”. Mas como a rejeição a ele e ao PT é grande, a ponto de o diretor-geral do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, avaliar que se o ex-presidente fosse candidato hoje poderia perder a eleição, estrategicamente escondem-no, com o consentimento do próprio.
Haddad, aliás, escreveu um livro, justamente no ano da queda do Muro de Berlim, cujo objetivo é demonstrar que a Revolução Comunista de 1917 não conseguiu implantar o verdadeiro socialismo. Quando era ministro da Educação, para reagir às críticas ao livro “Por uma vida melhor”, que admitia erros de português como sendo uma forma espontânea de se expressar, Haddad saiu-se com essa bizarrice: “Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam os seus inimigos, mas o Stálin lia os livros antes de fuzilá-los.”
O eleitor, na prática, fez o mesmo que Lula nas eleições de 2010 e 2012, quando escalou seus adversários preferenciais para derrotar, em diversos partidos: Tasso Jereissati, do PSDB; Arthur Virgílio, do PSDB; Marco Maciel, do DEM; Heloísa Helena, hoje na Rede.
Lula fez campanha pessoalmente contra Arthur Virgílio, e disse que o povo tinha dado uma lição a ele com a vitória de Vanessa Grazziotin para o Senado. Hoje, Virgílio é prefeito de Manaus e Grazziotin não foi reeleita. Sobre a derrota de Tasso Jereissati naquela altura, disse que o povo “fez um favor danado”. Tasso hoje é senador.
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