- Folha de S. Paulo
Declarações sobre capital estrangeiro e privatizações viajaram e pegaram mal lá fora
Líderes políticos, economistas e aliados de Jair Bolsonaro (PSL) mandaram recados de paz a figuras relevantes da finança, a partir da noite de quarta-feira (10), depois da consternação causada por declarações antiliberais da campanha bolsonarista.
Não adiantou muito.
O plano era desfazer a péssima impressão que o candidato e próximos deixaram ao criticar o plano de reforma de Previdência do governo de Michel Temer, de insinuar que qualquer reforma seria aguada e concentrada na mudança na aposentadoria de servidores mais ricos.
Bolsonaro reavivou velhas suspeitas sobre suas convicções ao praticamente negar que haveria qualquer privatização relevante em seu governo, Eletrobras inclusive, e de mostrar "imensa má vontade", no dizer de um grande investidor, com o capital estrangeiro, ao levantar suspeitas sobre o dinheiro vindo da China.
Não foram apenas as ações de estatais que desabaram, em parte por causa do falatório da campanha do líder nas pesquisas. Também voltou a cair a confiança na estabilidade das orientações de um governo bolsonarista.
As afirmações de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência juntaram-se a uma série de declarações confusas sobre o assunto, desde que o candidato lançou seu programa.
Não pegou bem, mas não seria assim novidade e, dizem financistas, "há sinais internos" da campanha bolsonarista de que haverá um projeto de reforma relevante já no início do ano que vem.
São eles que estão dizendo.
As críticas de Bolsonaro ao capital estrangeiro e a privatizações tiveram repercussão um pouco pior.
Foram longe, literalmente. Gente do dito "mercado" teve de ouvir muitas perguntas de seus colegas do exterior. Não por uma solidariedade ao capital chinês, claro, ou por haver negócios de privatização na mira, embora o caso da Eletrobras esteja em consideração lá fora. Bolsonaro voltou a parecer uma biruta ideológica, instável e temperamental.
Mesmo nesta crise imensa, de meia década, continua vindo dinheiro grande para o Brasil.
Com um programa de estabilização fiscal e, no front da "economia real", de melhorias regulatórias, concessões de infraestrutura e alguma privatização, haveria muito dinheiro ainda por vir. Mas quem vive fora do Brasil ficou com um pé atrás.
A eventual vitória de Bolsonaro também não é vista como garantia alguma de estabilização, entre gente mais graúda da finança.
Desconfia-se da insistência em planos extravagantes, CPMFs e assemelhados, quando há "um manual" pronto de reformas a fazer e providências a tomar: reforma da Previdência, contenção de gastos com salário, alguma revisão de isenções fiscais, um primeiro passo na reforma tributária e um programa de concessões bem arrumado e amplo.
Não é uma preferência por planos modestos, mas pelo projeto de começar o governo com medidas que possam acalmar os ânimos e colocar a economia de novo no caminho da recuperação pelo menos do que perdeu na recessão, o que facilitaria o debate de mudanças mais profundas.
A tarefa essencial de qualquer governo seria, pois, inspirar confiança.
Há desconfiança também da capacidade política de um governo Bolsonaro organizar uma coalizão estável no Congresso.
Aprovar uma reforma essencial e difícil, como a da Previdência, demonstraria a competência de um possível governo, além de tudo, e "mudaria os ânimos políticos e econômicos", diz um executivo de banco, desanimado com a instabilidade de ideias e comando na campanha bolsonarista.
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