Durante discurso, presidenciável falou sobre a proposta de 13º para beneficiários do Bolsa Família
Talita Fernandes e Sérgio Rangel | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA E RIO DE JANEIRO - O candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez nesta quinta (11) no Rio seu primeiro evento de campanha do segundo turno, no qual anunciou três ministros, criticou a mídia e reafirmou bandeiras polêmicas.
Um dos nomes a compor seu eventual governo já havia sido confirmado anteriormente, o economista Paulo Guedes, que comandará a fusão da Fazenda com o Planejamento.
Os outros dois eram especulados, mas não confirmados. Uma Casa Civil sob Bolsonaro será ocupada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Ligado à bancada ruralista, Onyx (pronuncia-se oníx) é conhecido por sua retórica anti-PT, exercitada desde os tempos da CPI dos Correios, que apurou o mensalão.
Aproximou-se de Bolsonaro e desde o ano passado ajuda a costurar apoios suprapartidários a ele na Câmara.
A Defesa ficará com o general da reserva Augusto Heleno, seu colaborador que quase ocupou a vice na chapa. Informado pela Folha sobre o anúncio, o militar desconversou: "Não sabia de nada".
Bolsonaro falou por cerca de 20 minutos num salão com integrantes da bancada federal eleita pelo —PSL 52 deputados e 4 senadores. Pediu prioridade à eleição presidencial. Segundo o Datafolha, ele tem 58% das intenções de votos válidos, contra 42% de Fernando Haddad (PT).
O encontro foi transmitido pela internet pela deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP). Nele, o deputado repassou o roteiro de ação.
"Muito cuidado ao falar com a mídia. Eles querem pegar uma frase sua, uma escorregada, para me atacar. Recomendamos até, se for o caso, nem falar. Grande parte da mídia é de esquerda e quer arranjar meios para me desgastar", afirmou.
"O atentado [a faca que sofreu no dia 6] é porque nós sim somos um perigo, não para a democracia, mas um perigo para os que teimam em não ser brasileiros", disse.
Criticado por adversários pela ausência em debates, alegando recuperação médica da facada que recebeu, Bolsonaro demonstrou boa disposição.
Ficou de pé e até gritou palavras de ordem. Concedeu depois uma entrevista coletiva de 25 minutos na qual afirmou que poderá não ir mais a debate por "estratégia".
Ele disse aos aliados que eles não devem querer "agradar a todos". E voltou a defender bandeiras polêmicas, como a ampliação do posse e do porte de armas de fogo como forma de combater a violência.
Também criticou Haddad. Disse que se for questionado pelo petista sobre o que fez nos 28 anos como deputado, dirá que "não roubou" como os outros.
Instado por apoiadores nordestinos a falar sobre a região, a única na qual perdeu o primeiro turno, disparou contra partidos esquerdistas.
"Vamos libertar esses estados dessas doenças comunistas. Lá tem gente que vota no PT, no PC do B, mas que não tem noção do que estão fazendo, foram doutrinadas. Vamos resgatar essas pessoas."
Falando sobre o Amazonas, afirmou que irá "acabar com o fantasma do triplo A". Constando de várias teorias conspiratórias sobre desígnios americanos para tomar recursos naturais na América do Sul, publicadas inclusive num post de Bolsonaro de 2015, o triplo A é uma faixa que liga o Atlântico aos Andes, passando pela Amazônia.
Bolsonaro repetiu que "o futuro ministro da Agricultura e do Meio Ambiente" irá sanar divergências entre as duas áreas e criticou reservas indígenas. "Índio tem de ser gente como a gente", afirmou.
Bolsonaro brincou com sua fama de homofóbico e racista. Primeiro, chamou ao palco o deputado eleito Helio Bolsonaro, que foi o mais votado no Rio de Janeiro e é negro. Depois, perguntou: "Tem algum gay aqui? É bem-vindo".
Nisso, uma apoiadora que mora nos EUA e que ele já conhecia há "três ou quatro anos", chamada Carol, se apresentou e pediu um abraço. "Meu beijo cura, hein? Quer um beijo meu?", disse. Eles se beijaram e abraçaram.
Na sequência, disse que "nós só não queremos que certos conteúdos cheguem para crianças na escola".
A entrevista coletiva foi cercada por forte segurança. Quando a organização anunciou que a Folha faria perguntas, a claque presente reagiu com vaias e foi repreendida pelo presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno.
"Pessoal, olha só, vamos respeitar a liberdade de imprensa. Vamos respeitar as diferentes linhas editoriais que existem, isso se chama democracia. Estamos aqui para chegar ao poder pela via democrática, sem hostilizações."
Bolsonaro criticou o jornal por reportagem sobre uma funcionária fantasma de seu gabinete. "Humilharam uma senhora, filha de negros, num local pobre", disse.
O candidato, que havia questionado no Twitter a versão de que um capoeirista foi morto domingo (7) numa discussão em que criticou Bolsonaro dizendo "Imprensa lixo!", disse lamentar o incidente. "Não fique nesse fake news como se o meu pessoal disseminasse o ódio. Agora, quem levou a facada fui eu", afirmou.
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