- Folha de S. Paulo
Há mais de uma resposta possível para a pergunta
Afinal, Jair Bolsonaro se qualifica ou não como um neofascista? Se por “neofascista” você entende alguém que dá declarações que fazem pouco da democracia e dos direitos humanos, então não há dúvida de que o capitão reformado é um. Seu histórico nesse quesito é implacável.
Se, entretanto, você colocar o sarrafo um pouco mais alto e reservar o termo “neofascista” para líderes eleitos que tomam medidas que erodem as instituições, desfigurando a democracia, aí a resposta intelectualmente honesta é “não sabemos”. E não sabemos porque o futuro é contingente. Bolsonaro nem sequer foi eleito ainda e não há meio de saber de antemão como ele se comportaria.
Como não temos a bola de cristal, só o que podemos fazer é consultar os ditos e os feitos dos candidatos e estimar riscos. Não é uma ciência exata. O presidente turco Recep Erdogan, hoje um dos mais ativos autocratas do planeta, foi por mais de uma década universalmente saudado como campeão da democracia e exemplo a ser seguido pelo mundo islâmico.
Já o peruano Ollanta Humala entrou em evidência com um discurso ultranacionalista e autoritário, de tons esquerdistas, e ainda ostentava em seu currículo uma quartelada e o apoio de Hugo Chávez. Mas chegou à Presidência do Peru em 2011 e fez um governo sem percalços do ponto de vista da democracia. Ele passou uma temporada preso, mas por suspeita de envolvimento nos esquemas de corrupção da Odebrecht.
De minha parte, multiplicando a minha percepção do risco Bolsonaro pelo peso que dou à preservação da democracia e dos direitos humanos, concluo facilmente que jamais votaria no capitão reformado. Mas esse é um cálculo pessoal e intransferível. O que faz sentido para mim pode não fazer para outra pessoa que opere com um conjunto de valores diferente. O pressuposto mais básico da democracia é que precisamos aceitar que outros pensem legitimamente de forma diferente da nossa.
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