- Folha de S. Paulo
Antes da 1ª Guerra, maioria dos óbitos nos conflitos era por epidemias com ectoparasitas como vetor
O presidente da França, Emmanuel Macron, em seu discurso por ocasião do centenário do armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, queixou-se de demônios do passado que estariam ressurgindo na forma de nacionalismo e ameaçando mais uma vez colocar a história num curso trágico.
Não há dúvida de que o nacionalismo, que era ruim cem anos atrás, continua ruim hoje, mas, ao traçar comparações históricas de grande envergadura, é preciso estar atento para não fechar os olhos para as diferenças que marcam cada um dos períodos. Dados quaisquer dois momentos da história, sempre haverá mais diferenças do que semelhanças entre eles.
Há demônios e demônios, e, se alguns ressurgem, outros parecem ter sido exorcizados. Algo pouco destacado nas efemérides da Primeira Guerra é que ela foi o primeiro conflito envolvendo grandes exércitos em que a maior parte das baixas foi provocada pelos combates propriamente ditos e não por doenças.
Em guerras anteriores, a maioria dos óbitos era causada por epidemias que têm ectoparasitas como vetor, a exemplo do tifo. Exalta-se o papel do general Inverno na derrota de Napoleão na Rússia, mas o marechal Piolho foi muito mais decisivo. Estima-se que, para cada soldado francês morto no campo de batalha, quatro tenham sucumbido a patógenos transmitidos por insetos.
Essa tendência só se inverteu na 1ª Guerra com a introdução de esquadras sanitárias, compostas por pelotões de barbeiros e brigadas de lavanderia. Já citei aqui Jeffrey Lockwood, que conta essa história em detalhes. Seu “Soldados de Seis Pernas” ganhou edição brasileira.
Precisamos sempre apontar os riscos que corremos, como fez Macron, mas sem deixar de destacar o que funcionou, como é o caso da adoção de medidas básicas de higiene —uma revolução sanitária que já salvou milhões de vidas. Não basta evitar o erro; é preciso também insistir nos acertos.
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