Nas manifestações, mudanças na Previdência receberam apoio, mas o foco tem de ser o Congresso
O domingo de manifestações em favor do governo Bolsonaro, realizadas em 156 cidades, distribuídas pelos 26 estados e o Distrito Federal, serviu para mostrar que a direita chegou mesmo às ruas, que eram monopólio da esquerda até junho de 2013, quando atos espontâneos, à margem das máquinas sindicais lulopetistas, denunciaram a má qualidade dos serviços públicos e da infraestrutura.
É possível inferir que a grande maioria dos que se vestiram de verde e amarelo no fim de semana seja bolsonarista de raiz, sem representantes daquela parcela dos eleitores do ex-capitão que votaram nele movidos por um forte sentimento antipetista. Demonstram pesquisas que estes já abandonaram o presidente.
O pretexto da mobilização foi a resposta a passeatas, também realizadas em todo o país, em defesa da Educação, depois que o novo ministro da área, Abraham Weintraub, fez um pronunciamento desastrado para anunciar “cortes” no MEC, quando, na verdade, era um contingenciamento. O ministro aproveitou para fazer críticas de fundo ideológico a universidades, em que reinariam “bagunça” e “balbúrdia”. Com isso, deu pretexto para a oposição organizar as manifestações, de que se aproveitaram até mesmo corporações sindicais de servidores públicos, privilegiadas na atual Previdência, e levaram às ruas palavras de ordem contra a reforma.
O bolsonarismo entendeu que deveria responder às manifestações de “esquerda”, embora a defesa da educação seja uma bandeira suprapartidária. Foram, então, organizadas as passeatas a favor do governo, algo pouco visto, e que costuma ocorrer em regimes autoritários, como o de Nicolás Maduro, na Venezuela.
A iniciativa abriu espaço para a extrema direita pregar o fechamento do Congresso e do STF, uma manifestação golpista. Bolsonaro agiu de forma correta ao desautorizar este discurso. Enfim, a presença desses radicais foi desprezível.
Quanto mais não seja, o domingo serviu para reafirmar a popularidade do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que tem sido batido no governo em questões como a das armas. E demonstrar um inédito apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que trata de executar um ajuste a partir da Previdência, tema impopular. Mostra que a classe média que ocupou a Paulista e a Avenida Atlântica, além de vias principais em várias outras cidades, demonstra ter mais consciência que políticos da oposição.
Passada, porém, a manifestação a favor, deve o governo se voltar aos entendimentos com o Congresso, espaço institucional para as mudanças necessárias nas leis, a fim de que o país saia da estagnação em que se encontra. Não pode considerar que avanços que venham a ser alcançados na reforma da Previdência e outras se deverão às pressões das ruas, usadas quase sempre com intenções antidemocráticas.
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