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Pacto para salvar o governo
Por aqui, mas não só, governo em dificuldades costuma defender um pacto nacional para que possa tirar o país do buraco. Veja bem: não é para que ele, governo, saia do buraco, mas para que saia o país encalacrado por isso, por aquilo outro ou por um monte de coisas.
Há vezes em que os convocados para o pacto simplesmente dizem não – a história do Brasil está pontilhada de exemplos. Há outras em que dizem sim só para não serem acusados de radicais, intransigentes, refratários ao diálogo. Mas o pacto em nada resulta.
Esta manhã, em Brasília, a convite do presidente Jair Bolsonaro, os presidentes da Câmara e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Dias Toffoli, se reunirão para discutir um pacto entre os três poderes. Improvável que dê certo.
Como poderá dar certo se o anfitrião preside o país há cinco meses sem dispor sequer de um programa de governo? Se a cada semana surpreende os brasileiros com ideias sem pé nem cabeça que ele logo abandona ao primeiro sinal de inconsistência ou de encrenca?
De fato, a Bolsonaro não interessa pacto, acordo, entendimento, nem mesmo com os que o cercam de perto (alô, alô, Paulo Guedes, Sérgio Moro e os militares empregados no governo: não é verdade?). Interessa rendição às suas vontades. Rendição. E ponto final.
Foi por isso que estimulou os devotos a saírem às ruas em sua defesa no último domingo. Seu propósito era emparedar o Congresso e a Justiça. Ante o perigo de ser processado por crime de responsabilidade, pediu moderação aos manifestantes. O estrago, porém, já estava feito.
De lá para cá, Bolsonaro trava a batalha para lacrar seus adversários com o discurso de que se fortaleceu politicamente. Mas como, se as manifestações foram bem menores do que as protagonizadas dias antes pelos estudantes contra o corte de verbas para Educação?
Mas como, se as ruas só juntaram os chamados bolsonaristas de raiz ainda dispostos a ir para o céu ou o inferno na companhia do Messias? Mas como, se ele já perdeu até mesmo a confiança dos poderosos que preferiram fechar os olhos ao seu despreparo? Agora, abriram.
O café do pacto se dará depois que um Bolsonaro aparentemente sensato e convertido à democracia pregou que o povo nas ruas deve ser escutado. Que povo? Os chamados por ele de patriotas? Ou também os estudantes chamados por ele que de “idiotas úteis”?
Bolsonaro se elegeu com 58 milhões de votos. Fernando Haddad (PT) perdeu com 47 milhões. Onze milhões de pessoas se negaram a votar tanto num quanto no outro. No seu discurso de posse, Bolsonaro prometeu que governaria para todos os brasileiros. Era sua obrigação.
Não governa nem mesmo para todos os que o elegeram. Governasse e não estaria sangrando nas pesquisas, nem apelando para ilusórios instrumentos testados e reprovados em tempos passados. É o caso do pacto pela salvação do país. Ou melhor: pela salvação do governo.
Garoto em baixa
O que uma foto pode contar
Observe com cuidado a foto acima. O que mais chama sua atenção? Ela foi tirada no último domingo depois do casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro com Heloísa Wolf em um condomínio do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Fotos como essa são tradicionais. Elas reúnem os recém-casados e seus parentes mais próximos. E todos posam sorridentes, felizes. Da esquerda para a direita, o casal Flávio, Michele e Jair Bolsonaro, Eduardo e Heloísa, e Carlos. À frente deles, as daminhas de honra.
E aí? Não, o que mais chama atenção na foto não é a ausência da mãe de Eduardo, de quem o presidente Bolsonaro separou-se há muito tempo. Nem o vestido decotado da mulher do senador Flávio. Nem a elegância desleixada de Carlos, na ponta direita.
Bingo! Acertou quem notou que Carlos é o único adulto da foto que não sorri. Está de cara amarrada como não se sentisse à vontade na cena. Não, nada a ver com o fato de não ter par como os demais. Tudo a ver com a situação incômoda que atravessa no seio da família.
Carlos perdeu o protagonismo que sempre teve entre os garotos do capitão desde que o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, queixou-se dele e do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho em conversa recente com Bolsonaro.
Villas Bôas disse a Bolsonaro que ele poderia perder o apoio da caserna se não pusesse fim aos ataques de Carlos e de Olavo contra os generais empregados no governo. Bolsonaro levou a sério a advertência. Os ataques nas redes sociais foram suspensos.
Olavo passou recibo e anunciou no Twitter que não bateria mais nos fardados. Carlos retraiu-se, e retraído está, desgostoso, aborrecido. Como dono das senhas do pai, posta uma coisa aqui, outra ali, mas evita entrar em bola dividida. Até quando? Quem sabe?
No momento, junto ao pai presidente, o garoto de bola cheia é Eduardo. Flávio está lá com seus rolos sendo investigados pelo Ministério Público do Rio.
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