Com a indiferença de quem entra em um depósito de dinamite com o fósforo aceso, o presidente Donald Trump, com a intensificação das sanções ao Irã, ampliou as chances de séria deterioração política no inflamável Oriente Médio. Dando trelas aos radicais de seu time, como o assessor de segurança nacional, John Bolton, um dos que empurraram os EUA à invasão do Iraque, no governo de George W. Bush, Trump disse que chegou a ordenar ataques a instalações iranianas depois que o Irã derrubou um drone americano, alegadamente em seu território. O presidente americano teria dado mostra de sobriedade e realismo - e tudo pode ter sido apenas um embuste -, enquanto ataques cibernéticos tentavam abalar a capacidade dos militares iranianos operarem mísseis.
As ações de "pressão máxima" dos EUA para que o regime dos aiatolás sente à mesa de negociações obscurecem o fato de que foi Trump quem se retirou dela. Ele rompeu unilateralmente o acordo, fruto de longo e difícil trabalho do então presidente Barack Obama, que culminou em um entendimento ao qual apuseram suas assinaturas Reino Unido, Alemanha, França, China e Rússia. Em seguida vieram as sanções, que retiraram uma quantia não precisa de petróleo iraniano do mercado, que especialistas calculam entre 1 a 1,5 milhão de barris por dia. Estão sujeitos a punições empresas e bancos de qualquer país que realizem transações com o governo iraniano, criando uma barreira, que parece eficaz, para afastar investimentos de empresas americanas e europeias no país.
Trump segue o que lhe passa na cabeça e colocou em difícil situação seus aliados. Teerã deu um prazo de 60 dias, a vencer em 7 de julho, para que os demais signatários do acordo encontrem formas de proteger o país das retaliações americanas. Ao mesmo tempo, avisou que no próximo dia 27 ultrapassará o limite de 300 kg de urânio com 3,67% de pureza, estabelecido no acordo. As chancelarias europeias parecem estar diante de um beco sem saída, e divididas. O Reino Unido alinhou-se unilateralmente a Washington. Rússia e China estão juntas ao lado do Irã.
Enquanto Trump dá apoio total à reeleição de Binyamin Netanyahu em Israel e estreitou laços com a autocracia saudita, aumentando a pressão sobre o Irã, navios que seguem a rota do Estreito de Ormuz, por onde passa quase um terço do petróleo mundial, foram atacados. Em 12 de maio foram alvejados 4 petroleiros sauditas. Dois dias depois, drones tentaram destruir duas estações de bombeamento de óleo saudita. No dia seguinte, 2 navios da Noruega e Japão tiveram a mesma sorte.
Os EUA acusaram o Irã, que negou tudo. A máquina de propaganda de Trump culpa os iranianos pelo que eles sabidamente fazem - apoiar grupos terroristas no Líbano, imiscuir-se no conflito sírio e armar os houthis em guerra contra os sauditas no Iêmen - e pelo que manifestamente não fazem - alianças com os sunitas da Al Qaeda, uma criação genuína da Arábia Saudita, aliada histórica dos americanos, e inimiga mortal dos xiitas.
Punir o Irã por suas alianças no perigoso tabuleiro político do Oriente Médio, porém, é uma opção de Trump. Mas voltar o poder de sua máquina econômico-financeira contra o Irã porque não concorda com o que foi aprovado pelo próprio governo americano e seguido à risca, como atestam os aliados americanos e a Agência Internacional de Energia Atômica é outra coisa inteiramente diferente. É um ataque unilateral a um país para obter dividendos não muito claros para os EUA, feito por um presidente em campanha pela reeleição.
Seguindo o roteiro dos guerreiros de seu governo, como o secretário de Estado Mike Pompeo e Bolton, os EUA enviaram aviões bombardeios para a região e mil soldados. Mas Trump tem vários e bons motivos para não querer a guerra. Um deles é que o Irã não é o Iraque, tem poder bélico superior, mesmo sem dispor de armas de destruição em massa, acusação forjada com provas falsas para justificar a invasão do Iraque. Outra consequência é que os xiitas iranianos usariam o poder de fogo de seus aliados na região para infernizar Arábia Saudita, Israel e Líbano, internacionalizando o conflito.
As cotações do petróleo subiram, porém menos do que seria de se esperar em um cenário de risco como esse. Mesmo com Irã e Venezuela quase fora do mercado, a produção dos EUA e os estoques têm compensado a redução da oferta até agora. As provocações de Trump podem a qualquer hora gerar reações sobre as quais ele não têm nenhum controle. Não parece haver limites para sua irresponsabilidade.
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