quinta-feira, 27 de junho de 2019

Mariana Carneiro: Bolsonaro e seu reinado

- Folha de S. Paulo

Presidente pode até querer fazer crer que suas escolhas não são políticas, mas são

Caiu por terra, nesta semana, mais um dos discursos que Jair Bolsonaro abraçou durante a campanha eleitoral e seguiu propagando mesmo depois de assumir o cargo.

O presidente não gostou das novas regras para a nomeação de dirigentes de agências reguladoras e reclamou que estavam tentando transformá-lo em uma rainha da Inglaterra.

As normas, vetadas por ele, de fato retiravam poder do presidente. O poder de nomear livremente dirigentes de órgãos que têm a obrigação de fiscalizar serviços públicos ora administrados por privados, como telefonia, energia elétrica e saúde.

Pelo projeto, os indicados passariam por uma seleção pública, feita por uma comissão. De uma lista de três finalistas, o presidente escolheria um e o enviaria à sabatina do Senado. Mas aparentemente Bolsonaro quer manter a nomeação política. Ou pelo menos, a de sua política.

Não combina com o figurino do eleito que se orgulhou em repetir que formara seu ministério sem intervenções partidárias. Os políticos pareciam estar em baixa. O presidente deu preferência a militares na indicação para cargos no governo (aliás, ainda seriam militares ou já se converteram em políticos, uma vez que fazem política diariamente?).

O presidente pode até querer fazer crer que suas escolhas não são políticas, mas são. Representam preferências de um grupo que optou por legislar sobre posse e porte de armas, que prefere censurar comerciais de bancos estatais a saber como anda o ritmo de seus empréstimos ou, ainda, que acredita que ruralistas devam cuidar da demarcação de terras indígenas.

Nenhuma dessas iniciativas vai ajudar a gerar empregos e melhorar a qualidade de vida da população
—talvez a maior missão do presidente. Mas uma gestão profissional das agências reguladoras, sim.

Bolsonaro fez sua escolha. Ao desdenhar a urgência de 13 milhões de desempregados e dedicar seu capital político a uma agenda diversionista, ele próprio opta por vestir o manto de rainha da Inglaterra.

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