- Folha de S. Paulo
Imagens do filme de Petra Costa desmontam teses políticas da própria diretora
“Democracia em Vertigem” tenta seguidamente arrancar vertigem das tomadas aéreas de Brasília. É o mais próximo que chega de documentar seu título —porque, no mais, as teses políticas da diretora e narradora Petra Costa vão sendo desmontadas pelas próprias imagens.
Temer assume e a locução fantasia. Os novos donos do poder, diz, “entram ávidos pelos salões depois de anos tendo que pedir permissão”. Probleminha: quem aparece nas imagens é Henrique Meirelles, presidente do BC de Lula por oito anos.
A mídia, como não, é vilã. Nos protestos de 2013, ela “faz sua parte, transmitindo cada detalhe e naturalizando seu caráter agressivo”. Cabe perguntar: aos olhos da diretora, o correto seria escondê-los?
No impeachment, Lula diz que não haverá consenso sobre as pedaladas e propõe: “Por que não cria uma comissão internacional de especialistas em orçamento público e dá um parecer?”. A solução desconhece guarida constitucional, mas isso não provoca vertigem na diretora.
O troféu maior das bobagens cabe a Jean Wyllys. Diz que Dilma começou a cair por ter afirmado que “os ricos teriam que pagar pela crise”. Continua: “As elites começaram a minar a popularidade de Dilma, e os números da economia começaram a mudar”. Fica a lacuna lógica: como os números começaram a mudar se a crise era justamente o ponto de partida do argumento?
As contradições se amontoam. O filme destaca que a opinião pública queria que a Câmara aprovasse a denúncia contra Temer, mas esquece o apoio popular ao impeachment. Levanta-se a tese de que Dilma caiu para Temer parar a Lava Jato —mas o próprio Temer poderia dar rico testemunho de que isso não ocorreu. Pessoas na rua gritam “de-mo-cracia”, só que a diretora parece ouvir outra coisa: “Desse momento em diante, nada mais seria igual”.
Talvez, afinal, o grande problema do filme não esteja com a definição de vertigem, e sim com seu conceito de democracia.
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