- Folha de S. Paulo
O mais razoável para o presidente brasileiro é voltar a atacar Maduro no Twitter
Donald Trump e Jair Bolsonaro discutindo a situação da Venezuela parecem dois amigos chamados de última hora para completar o time no tabuleiro de War.
Receberam cartas para destruir o exército vermelho, mas ainda não entenderam muito bem as regras do jogo e vão se atrapalhando com os cálculos de probabilidade dos dados.
O diálogo dos dois durante o G20 no Japão, revelado pela Folha, resulta bastante revelador de como o destino de 32 milhões de pessoas é debatido por aí.
Os americanos conversam sobre ocupar outro território como se escolhessem roupa. Invadidos por eles na década passada, Afeganistão e Iraque têm, ainda hoje, IDH bem pior do que o da Venezuela.
No caso do Brasil, a falta de projeto de país não poderia resultar em nada diferente de falta de projeto para o país dos outros também.
À leitura autobenevolente que Celso Amorim traçou na Folha sobre a política externa petista faltou uma observação: ela ajudou a empurrar a região até o problema atual.
Sempre tão elogiado pela formação de seu pessoal, o Itamaraty do passado e do presente escapa de uma crítica prática: que influência tem de fato na formulação da política externa? Pois entra governo e sai governo e não se nota essa inteligência toda nas decisões em Brasília.
Além disso, a maioria dos brasileiros é contra enviar tropas, e o efeito de uma guerra na opinião pública é cenário ainda por ser testado —inclusive em relação ao discurso de sacrifício orçamentário.
No Haiti, por exemplo, a operação de paz custou ao Brasil R$ 2,5 bilhões. Sendo que R$ 930 milhões foram ressarcidos pela ONU, o conjunto de forças agrupava 21 países e o território lá equivale a 3% do da Venezuela. Tudo agora seria muito pior.
Pensando mais friamente sobre o dia seguinte à invasão, o mais razoável para o presidente brasileiro é passar a vez no tabuleiro militar e voltar a atacar Maduro no Twitter.
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