- O Globo
Gasto médio neste Natal avança e vendas em 2020 devem voltar ao nível pré-crise no setor, que espera pela reforma tributária
Nesta longa crise que atingiu o Brasil, o Natal será um ponto importante. Apesar de as vendas no ano crescerem menos do que em 2018, é previsto que o gasto médio do consumidor neste Natal tenha retomado o nível de cinco anos atrás. Durante a recessão, o varejo encolheu 20%. Desse baque foi se recuperando devagar e apenas em 2020, se a projeção se confirmar, as vendas voltarão ao nível de 2014.
A Confederação Nacional do Comércio revisou para 5,2% a estimativa de alta nas vendas neste Natal. Em 2014 as famílias foram às compras sem saber o tamanho da recessão que o país enfrentaria. Depois das grandes quedas de 2015 e 2016, o consumidor ficou arisco. Agora, o gasto médio esperado é de R$ 489 por família, o que levará o faturamento do setor a R$ 36,3 bilhões no período natalino.
No geral, 2019 terá um crescimento de 1,9% nas vendas do comércio. É menos do que a alta de 2,3% de 2018. Isso porque este ano teve dois períodos distintos. O primeiro semestre foi de frustração, explica Fabio Bentes, da CNC. Os erros do governo, os ruídos que ele produziu, tiraram o vigor da economia. Já a segunda parte de 2019 foi positiva. Em 2020 a alta esperada é de 3%. E se não houver novos sustos, o país poderá dizer que a atividade de fato engrenou.
— Três fatores foram mais importantes para a melhora. A inflação baixa garantiu o poder de compra dos consumidores. No crédito, as taxas ainda são absurdamente altas, mas os prazos estão mais longos e o que o brasileiro leva em consideração mesmo é o preço da prestação. O terceiro ponto foi a liberação do FGTS, que ficou concentrada neste fim de ano e impulsionou a Black Friday e o Natal — explica Bentes.
Essa década foi um período de volatilidades para o comércio. Em 2010 as vendas cresceram 11,3%. Em 2015 e 2016, a queda foi maior que 8% ao ano e mais de 330 mil postos de trabalho foram fechados. Em 2019, o saldo está positivo em 85 mil. A expectativa é que ano que vem sejam recuperados mais 119 mil empregos.
Maurício Filizola, presidente da Fecomércio do Ceará, lembra que a comunicação do governo pode atrapalhar. Foi o que aconteceu neste primeiro ano de mandato. O começo foi tão turbulento que as previsões de crescimento passaram a apontar até para uma recessão técnica na economia. A confiança do consumidor, que havia ensaiado uma alta, voltou a cair. Mesmo tendo melhorado nos últimos meses, o índice da FGV que mede o otimismo dos consumidores fechou o ano menor que em janeiro. Está no mesmo nível que no começo de 2015.
Filizola aponta um indício de que a recuperação agora é para valer. Os consumidores estão comprando mais produtos semiduráveis, como eletrônicos, roupas e calçados. Pela experiência dele, esse é um sintoma de força do consumo. As famílias estão mais dispostas a comprar produtos mais caros, que dependem de crédito.
A previsão do BC para o comércio melhorou nos últimos de três meses, de 1,2% em setembro para 2% da previsão divulgada na semana passada. No último dado setorial divulgado pelo IBGE, o de outubro, as vendas foram 4,2% mais fortes que um ano antes, apurou o IBGE.
Nos shoppings, também o ano foi melhorando na reta final. A previsão é de que as vendas cresceriam 7% e já antes da Black Friday, a alta acumulada era de 8,2%.
— Este foi o melhor Natal dos últimos anos para os shoppings, a estimativa é de um avanço de 10%. Os empregos criados podem chegar a 70 mil. A taxa de juros mais baixa tem efeito no consumo e também no investimento. Com o retorno menor da Selic, abrir um empreendimento comercial fica mais atraente — conta Glauco Humai, presidente da Abrasce, a associação dos operadores de shoppings.
As ações das empresas de varejo na Bolsa mostraram esse momento mais positivo. A Magazine Luiza dobrou de preço novamente este ano. A Via Varejo quase triplicou sua cotação. São empresas que apostaram no comércio eletrônico, conta Thomaz Fortes, da gestora de recursos Warren. Mas elas também dependem das mesmas condições do varejo em geral. Ele acha que os riscos ainda existem na economia, embora as condições para o varejo devam continuar positivas em 2020.
O que o setor mais esperava este ano, a reforma tributária, não veio e teme-se que em 2020, ano eleitoral, ela também não avance. A tributação mais simples sobre o consumo reduziria o custo dos lojistas. Com essa dúvida, os grandes investimentos, diz Glauco Humai, devem ficar para 2021.
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